Hoje tive um sonho muito... fantasioso. Apesar de o poder colocar em forma de história, não sei como o fazer. As imagens continuam vividas na minha cabeça. E por muito que tente não o analisar, há alguns aspectos que não me largam a memória.
Era um dia de Primavera. O caminho de terra batida estava coberto de pó das árvores e havia uma ligeira brisa no ar que abanava suavemente os ramos cobertos de folhas e flores a nascer. Um grupo de amigos caminhava tagarelando, um encontro numa tarde de Domingo.
Mais à frente, duas raparigas passeavam. Uma com cabelos escuros longos, lisos, que esvoaçavam ao vento e a outra com um olhar ausente, perdido. Os rapazes viram-nas e começaram-se a meter com elas. A rapariga do olhar triste não é de ficar calada. Respondeu, e eles não gostaram. Aproximaram-se e rodearam-nas.
De repente, uma mancha começou a sugir sob a sombra de uma árvore. "Deixem-nas em paz...". A rapariga olhou para o lado e reconheceu-o. O Sombra. Manto, cabelo, olhos, todo ele envolto em escuridão.
Os rapazes assustaram-se. Era o Sombra. O ser que todos temiam. Que surgia através das sombras e atacava sem piedade. Aquele cujas íris não se diferenciavam do resto dos olhos, pois tudo neles era negro.
Fugiram. Correram sem parar. E a rapariga continuava a olhar para o Sombra, fascinada. Ele correspondeu. E apanhou-a na escuridão, deixando a outra rapariga para trás, a gritar.
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Contorcia-se nas mãos do Sombra, sem saber porque tinha sido levada. Mexia-se, numa tentativa de se libertar, mas ele não a largava. As suas mãos fechavam-se em volta da sua cintura, mãos do tamanho de uma viatura... Não a esmagavam, mas mantinham-na presa, impossibilitando a sua fuga.
"Porquê?!"
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Foi abandonada no rés-do-chão de um prédio. Tinham havido algumas negociações. Helicópeteros sobrevoavam a zona, todos no prédio estavam à janela, a ver o seguimento dos acontecimentos. O Sombra, lá do alto, sob a protecção do prédio da frente, apontou na direcção da rapariga e virou costas. Rapidamente, vários holofotes se direccionaram para o rés-do-chão. Ouviram-se aplausos, assobios, "vivas", mas tudo o que a rapariga queria, era perceber.
Ignorou a manifestação entusiástica da população e saiu pela porta. Subiu as escadas e, em vez de se dirigir para a saída do prédio, continuou a subir. Quando deu por si, estava a passar por uns corredores de um centro comercial.
A amiga dos cabelos compridos juntou-se-lhe. Deu-lhe o braço e seguiram caminho, a falarem sobre o que tinha acontecido. Todos viravam a cabeça para ver a rapariga passar. Entraram numa loja, onde duas raparigas estavam a discutir e a chorar. Foi até elas e pôs as mãos sobre as bocas de ambas. Elas olharam-na e as suas expressões logo se suavizaram. Quando virou costas e puxou a amiga para fora da loja, pôde ver o abraço e beijo que as raparigas trocaram.
As duas seguiram, rindo-se pelo que tinha acabado de acontecer. Um rapaz apareceu, foi de encontro a elas e, disfarçadamente, colocou um isqueiro no bolso de trás da rapariga de cabelos compridos.
"Desculpa, deixaste cair isto..."
A rapariga de olhos tristes tirou o isqueiro do bolso das calças da amiga e entregou-o ao rapaz. Ele tinha cabelo negro e sobrancelhas espessas também elas negras. Mas os olhos é que lhe chamaram a atenção. Eram castanhos-esverdeados. Usava óculos, sem aros, e tinha uma expressão bastante juvenil.
"Ah... Obrigado... Olha lá, não és a namorada do Sombra?"
A rapariga fez um ar impaciente e decidiu ignorar. Seguiu caminho com a amiga, mas ele juntou-se-lhes. Foram a conversar até à saída. A amiga sempre a sorrir e a mandar palpites, a dizer-lhe para aproveitar. Mas Ele surgiu. Apareceu vindo da direita e acenou na direcção dela. Era igualzinho ao rapaz, mas possuia aquela tristeza no olhar. A expressão era mais cansada, o aspecto mais melancólico. Era Ele. O Sombra. Ela sempre soube.
Depressa ignorou o rapaz a seu lado e correu para Ele. Saltou-lhe para cima, deu-lhe um beijo na bochecha e abraçou-o com toda a força. Ambos se riram, alegres pelo reencontro. Olharam-se nos olhos e ele acabou por pousá-la no chão.
"A minha namorada está à minha espera."
A rapariga percebeu. Parou de sorrir e acenou com a cabeça. Ele apontou na direcção do rapaz e olhou-a persistentemente.
"Devias aproveitar."
Ambos olharam para trás, onde a amiga e o rapaz estavam à sua espera. A rapariga baixou o olhar para o chão. Dirigiram-se até eles, e seguiram para a porta de saída. O Sombra e a amiga iam à frente, enquanto ela e o rapaz ficaram cada vez mais para trás, para desespero dela.
"Mais importante que o deixares ir, é libertares-te."
A rapariga olhou para o rapaz e parou. Não soube dizer quando tempo ficou lá, mas quando voltou a conseguir mexer-se, estava sozinha. Encostando-se à parede do lado, deslizou até ao chão, atrás de uma coluna, e chorou.
E Ele apareceu. Através das sombras das paredes e das colunas, vi-o chegar e aproximar-se. Vinha como Sombra outra vez. Debruçou-se sobre ela e abraçou-a, envolvendo-a com a sua longa capa negra.
"Tem de ser..."
Explicou-lhe que tinha criado aquele rapaz, igual a ele, de forma a poder ajudar-la. Que ele era o Sombra, que não podia ficar com ela. Que lhe tinha dado o rapaz como substituto.
"Mas eu não quero o rapaz... Quero-te a ti, o Sombra..."
"Não é possível... Lamento..."
Deu-lhe um beijo e desapareceu. E ela ficou a chorar.
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Meses passaram, e a rapariga namora com o rapaz. Desde aquela vez nunca mais viu o Sombra.
Está a correr no mesmo caminho onde foi levada pelo Sombra. Com os auscultadores nos ouvidos, corre sem parar, sem pensar em nada. Pequenas flores e animais começam a aparecer e a desaparecer na sua frente, mas ela não liga. Acha engraçado.
Uma súbita sensação de perigo toma conta dela. Olha para trás e vê-os. São um grupo, disfarçados de corredores. Decide parar e deixar-se ficar para trás, a ver o que eles vão fazer. A amiga aparece e puxa-a na direcção contrária. Começam a andar na direcção contrária, passando o grupo. Suspirando fundo, ambas falam animadamente sobre os planos para essa noite. Mas a falsa sensação de segurança rapidamente é sobreposta com a do perigo iminente, quando vê outro grupo na sua frente. Olha para trás e vê o outro grupo a correr na sua direcção.
Assustada, salta o muro e corre pelo jardim do patamar superior. Corre, corre, corre, desviando-se de árvores, pessoas, trabalhadores, até chegar à saída do parque. Um carro tapava-lhe a saída. Sem tempo para travar, bateu contra o carro, onde viu mais pessoas como aquelas que a seguiam. Rodeou o carro e correu pela rua de sentido único.
O seu instinto era fugir. Correu até a noite cair. Escondeu-se numas escadas, ocultas pela escuridão e chorou. Chamou e gritou por ele, mas ele não apareceu. Sabia que não podia escapar. Sabia que não havia fuga possível.
Acertou. Eles apareceram. Rodearam-na. Levantaram-lhe a camisola e uma barriga proeminente ficou à vista.
"Não, por favor, não..."
Era a única ligação ao Sombra. Uma dor forte, aguda. Agonizante. E depois, tudo ficou preto. E ele nunca veio.
Enfim... E esta é a história do meu sonho. Cortei algumas partes que não me recordava muito bem... E outras que não faziam muito sentido. Anyway... Tive a investigar na net se existia algum herói "Sombra", mas só vi dois, e nenhum deles se encaixa nesta descrição. Criei um super-herói :)