Devaneios...
4.10.2005 (23h36)
No início, só vias as nossas semelhanças. E eu já pensava no peso das diferenças. Colocaste-me num pedestal, num qualquer plano superior ao qual nunca pretendi ascender. Era como se não fosse um ser humano, mas sim uma deusa, alguém que veneravas e querias proteger, alguém que pudesses aclamar de tua. Sonhavas comigo como se fosse perfeita, apenas por sonhar o mesmo que tu. Transformaste-me numa boneca que querias para a tua casa e vida de sonho. Movimentavas-me para aqui e para ali conforte a tua vontade, independentemente da nossa realidade presente. Um dia abalei a tua fé, a tua crença nos nossos sonhos, no teu sonho. Desci do pedestal sem que te apercebesses, pois só continuavas a ver a minha imagem lá, e quando finalmente abriste os olhos, o teu céu caiu. Mas então já era tarde demais. Olhaste para o lado e viste-me realmente. Com todos os meus defeitos, com todos os erros acumulados, os desamores, a impessoalidade, e não sabias quem estava ali ao lado. Fechaste os olhos para as semelhanças, e odiaste as diferenças. E eu chorava porque do meu altar te tinha visto por completo, enquanto tu só vias as aparências, aquilo que querias ver e me deixavas mostrar. Mas agora que estava do teu lado, de igual para igual, seria sempre baixo demais para ti. E deixei-te ir embora, primeiro com o ódio e a raiva, depois com a desilusão, o sofrimento e a tristeza, a solidão e o desespero e a indiferença proveniente da aceitação. E coloquei a tua imagem num altar construído pelas minhas lágrimas e pelo meu sangue, vendo tanto as diferenças como as semelhanças, mas amando cada uma delas, e sofrendo com o peso da culpa que vi nos teus olhos, por nos ter deixado chegar a este ponto, em que eu choro e sonho com o que nunca será e tu sonhas novos sonhos, aprendendo com os teus erros. Assisti passiva ao fim do mundo tal como o conhecia e agora não sei onde estou.
05.10.2005 (11h19)
Agora sinto-me maioritariamente como uma marioneta, comandada pelas tuas mãos. Se estás feliz, fazes-me sorrir, se estás num dia mau, pões-me na merda. Se apenas te queres divertir, dás-me uns empurrõezinhos, eu caio ao chão, arrasto-me pela lama, afogo-me nas poças das minhas lágrimas. Pergunto-me se te darás conta disso? Como a tua opinião, o teu estado de espírito, tu, me influencias. Mas isto ainda era no tempo em que te preocupavas/divertias comigo. Agora a marioneta passou de moda e atiraste-a para um canto, esquecida, coberta de pó. Olho à minha volta sem saber muito bem como viver. Sem saber se quero arriscar a liberdade ou se espero aqui, nesta escuridão, por ti. Continuo presa a estes fios, ligada a ti. Basta desapertá-los e correr em direcção à porta, à luz. Penso muito seriamente nisso, em simplesmente atirar-te para trás das costas, mas vou-me deixando ficar, na esperança de que voltes a pegar em mim, me tires os fios e me coloques a teu lado, ou que alguém entre por aquela porta e me salve para a vida.
05.10.2005 (23h47)
Ou talvez tudo não tenha passado de minha imaginação. Talvez tudo se tenha passado ao contrário, eu te tenha colocado naquele altar de perfeição, mesmo com as tuas imperfeições que eu adorava, e nunca me tenha sentido digna o suficiente para te descer ao meu nível, de te deixar frequentar a minha realidade.
Estou sempre a bater na mesma tecla. Sim, talvez. Agora já não faz a mínima diferença para ti, para nós. Agora já não há altares, nem níveis, nem brincadeiras de marionetas. Mas é importante para mim perceber. É importante para mim poder analisar-te, analisar-nos, juntar as peças, perceber porque foi assim e não de outra forma. É importante que eu consiga classificar-te, colocar-te num ponto qualquer desta desordem a que chamam vida, que te guarde no teu devido lugar. Talvez depois possa fechar a tua caixa e arrumá-la no sítio onde sempre pertenceu e onde será mantida com cuidado e carinho. "Para o bem e para o mal"... Amei-te, tu sabes disso, eu sei disso, toda a gente sabe disso. Amámo-nos e perdemo-nos. Porquê? Porque é que o amor e os sonhos não foram suficientes? "Dreams are gonna fade away..." O que faltou? O que te faltou? O que me faltou? E o que resta agora? Uma mancha cinzenta dos dias de cor.
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