José Agostinho Baptista - Marta
Também tu já viajas
no coche negro com flores de ouro.
À altura dos teus olhos fechados,
a tampa de mogno não deixa passar a
ínfima luz dos candelabros.
Nada se ouve
mas as mãos de Deus vão arrancando,
uma a uma,
as raízes da minha vida, as suas hastes,
as pétalas que envelhecem sobre a mágoa.
Onde estás,
pequeno colibri do sul,
madrinha antiga da minha solidão?
Nada se vê
mas parece que pousas nos ramos da
cerejeira,
parece que me chamas, como outrora,
quando o fumo saía das chaminés,
parece que me dizes para esquecer os
navios.
Fiquei prisioneiro de ti e de todos,
e agora,
o meu sangue arrefece,
e já não vejo as horas num relógio de
luto.
Abril é o mais cruel dos meses,
li um dia,
quando ainda procurava as rosas no
coração da beleza.
Mas é demasiado tarde e tenho medo.
Digo-te simplesmente adeus,
e chove.
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