terça-feira, maio 31, 2005
domingo, maio 29, 2005
sábado, maio 28, 2005
sexta-feira, maio 27, 2005
Devaneios...
quarta-feira, maio 25, 2005
ég gaf ykkur von sem varð að vonbrigðum...
segunda-feira, maio 23, 2005
sexta-feira, maio 20, 2005
quarta-feira, maio 18, 2005
Divagações.. (again)
quinta-feira, maio 12, 2005
Nada p'ra fazer 1
domingo, maio 08, 2005
I'm glad you're here. Even though it hurts.
quinta-feira, maio 05, 2005
Recordações...
Já tinha isto escrito há algum tempo... Nunca tinha pensado em postar, porque não achava importante para a finalidade deste blog... Mas no fundo, acho que também tem a ver... Ficas a conhecer-me um pouco melhor... E é uma maneira de eu te contar as pequenas coisas que me lembro, que normalmente não dou muita importância... No meio disto tudo, há vários episódios que marcaram a minha infância/adolescência... Mas hoje em dia, não sei se os considero tão importantes como na altura. Estão presentes, mas com o tempo o seu significado foi-se perdendo...
"Mãe... Após estes anos todos de convivência, após guerras e batalhas, lágrimas e berros, mas também sorrisos e risos, danças e cantos, continuas a ser uma das duas pessoas pessoas capazes de me dar aquele bocadinho de paz de que eu realmente preciso mal acordo e quando chego a casa depois de um dia longe de tudo... Não sei como ainda não te cansaste de mim, eu abuso de ti, abuso dos teus braços, do teu abraço, do teu colo... Mal te vejo, é como se naquele momento só tu me pudesses fazer sentir protegida. Então, abraço-te, dou-me mil e um beijos, deito a cabeça no teu ombro, ou sobre a tua barriga e abraço-te até não poder mais... Talvez isso seja a minha forma de dizer o quanto gosto de ti... Às vezes, um gesto é muito mais simples do que mil palavras... Mas hoje, esta noite, tive medo... Tive medo que não gostasses de mim... Que estivesses farta de mim... Porque também gritas comigo às vezes, quando eu exagero... "Larga-me!", dizes tu... E eu largo, já com o coração aos pulos no peito, de medo... Mas logo estás lá a "chatear-me" a cabeça, de forma a que eu me possa abraçar a ti de novo, nem que seja para te fazer cócegas e ver-te gritar o meu nome enquanto te ris... Gosto muito de ti, mãe... Apesar de nunca ires ver isto, gostava de te poder dizer o quanto és importante para mim e o quanto tenho medo de te perder... E como tenho medo, porque esse momento aproxima-se muito mais depressa do que deveria... Nunca disse isto a ninguém... Quem me conhece, nunca imaginaria que passo a vida agarrada a ti quando estou contigo... Na verdade, mãe, tenho dificuldades em agarrar-me a outra pessoa, apesar de nos últimos tempos me parecer bastante natural com ele... Talvez por ser diferente... Talvez por tu seres a minha mãe... Não é que eu tenha vergonha de ti, de admitir que gosto de me refugiar no teu abraço... Mas às vezes receio que ninguém compreenda... E não consigo demonstrar esta atitude para mais ninguém, a não ser com ele, e mesmo assim, às vezes tenho receio, receio de demonstrar demais... Mas hoje, esta noite, quis que soubesses tudo o que significas para mim... E mesmo o pai, do pouco que me lembro dele durante a minha infância, e por muito que me chateie hoje em dia, lembro-me das vezes em que eu saía à rua, à noite, para o ver a descer a rua, a chegar do trabalho, qual D.Sebastião a surgir por entre as brumas... De como ele me ensinou a nadar no mar, desde cedo, para que eu nunca me afogasse... De como ele me segurava nas costas e na cabeça para me ajudar a boiar ou para saltar as ondas enormes, porque eu tinha medo, mas com ele à minha beira, nada de mal me podia acontecer... De como eu chorava de noite, a gemer por ti e por ele, com dores de barriga terríveis, e como ele se vinha sentar ao meu lado na cama e me fazia festinhas na barriga até as dores passarem e eu adormecer... De como tu e o pai se passavam quando eu ficava doente e tossia a noite toda, e de como se levantavam, preocupados mas também irritados, e me punham um pano embebido em vinagre na garganta, que eu tanto odiava, para me passar a tosse e eu conseguir finalmente dormir (e vocês também)... De como tu me contaste que quando eu era bebé chorava imenso e como o pai pegava em mim ao colo e me ia passear pelo pátio, a fazer-me festinhas nas costas, para me acalmar... De como todos os sábados e domingos à noite eu me ia deitar na tua cama, no teu lugar, e dava a mão ao pai e deixava-me adormecer... E quando vinhas para a cama, ele levava-me ao colo para o meu quarto e cobria-me e eu nem reparava... De como tu e eu iamos ao S.João todos os anos, e apanhavamos o pai no trabalho e iamos para a Avenida dos Aliados, para o meio daquela gente toda, eu tão pequenina, a segurar num martelo, e como me queixava porque estava sempre a apanhar com marteladas e com alhos-porros na cabeça, e não conseguia acertar em ninguém... E o pai nunca me largava a mão, tinha medo de me perder... E eu convencia-o sempre a comprar um algodão doce... Excepto da última vez... O último ano em que o pai foi trabalhar, que me comprou um gelado Dove de laranja... E eu queria ir para a Ribeira com a Filipa, mas nunca lhe pedi, porque sabia que não podia ir... De como desatei a chorar no meio de um ensaio do coro, porque tinhas acabado de me dizer que o pai tinha cancro... E eu não passava de uma pequenina e só sabia que o cancro matava e estava tão assustada... Chorei muito, mas fui visitá-lo ao hospital quando ele foi operado... Desde então, já me habituei que o pai tem uma saúde frágil... Assim como tu... Ou então o avô... De como ele me levava ao infantário sempre, e eu corria à frente dele a ver se me escondia dele, juntamente com o Daniel e os meus amigos do infantário que o avô também levava a casa... De como à vinda para casa e todos os sábados de manhã, parávamos no parque, e eu corria para os baloiços e ele ficava a dar-me lanço bem alto, e eu juro-te que quase conseguia tocar na estrela... Ou como ele me ensinou a jogar damas bem cedo, e eu aproveitava sempre que ele olhava para a televisão para fazer batota, e ele dizia que eu tinha feito batota, mas deixava-me ganhar na mesma... E como eu gostava de brincar aos supermercados com uma cadeira ao contrário e ele me ia comprar legos, bonecas, roupas, escovas, o que eu tinha mais à mão para fazer de conta que era comida... E quando eu fiquei muito doente uma vez, a arder em febre, e a vomitar sem parar, ele sentou-se atrás de mim no sofá e fez-me festinhas na cabeça para me acalmar... De como às quintas-feiras eu ia comer sempre a casa dele e da avó, deliciada com o frango que a avó fazia, e a salada... E ficava encantada com as histórias que a avó me contava, sobre a vida dela... De como o avô se apaixonou pelo cabelo dela, mas o bisavô, no dia do casamento, mandou que lhe cortassem o cabelo, e quando ela entrou na igreja, o avô teve uma desilusão tão grande que chorou... Ou como era suposto tu teres tido 4 irmãos, mas a avó teve dois abortos espontâneos... E como a avó me mostrava sempre a fotografia dela em bebé, com um vestido tão bonito... E a tua também... Eras a menina dela... E eu tinha sempre a mania de passar pela sala no final do almoço, para ir buscar uns rebuçados à taça de vidro... Mas só os de morango e os de limão... Os outros não gostava... Ou as manas... A Filipa, como passava a vida a sair... E quando ela estava em casa, eu corria até ao sótão e ficava a vê-la estudar na mesa, com o candeeiro com a águia azul colada por cima dela... E como me deitava na cama dela e me deixava adormecer até ao jantar, só a ouvir a música dela, e ela a escrever... Ou quando desabafava com ela sobre aquele rapaz lá da escola e sobre como escrever uma carta para o dia dos namorados... E como ela desenhava bem! Sempre a tentei imitar, sempre quis ser como ela... Ela parecia-me sempre tão fixe! Mas não me emprestava os lápis de cor dela... E aí eu fazia birra e chorava e dizia que queria usar aqueles lápis de cor... Ou a Paula... Que acordava sempre toda despenteada, com as tranças desfeitas, do pijama dela branco com bolinhas pretas... ou da camisola com um pé e uma pulga e ela me cantava aquela música do "Atirei o pau ao gato" mas na versão da pulga... Como ela me conta que me mudou as fraldas de pano e como uma vez se sujou toda, no hospital, com uma fralda minha e que eu era nojenta... Como foi ela que me ajudou com Física e Química no 9º ano, porque eu não pescava nada daquilo... Ou de como a vi um dia a fazer depilação com umas bandas de cera e pensei que fosse fita-cola e fui lá para baixo e e pus-me a arrancar os pêlos (inexistentes) das minhas pernas até que tu viste e gritaste comigo... E como eu queria coleccionar os cromos do rei leão e comprei a caderneta às escondidas, mas tu descobriste e ouvi um sermão enorme... Nada comparado àquele dia... Àquele dia em que me bateste mais do que nunca... Aquele dia que até hoje, é o dia mais confuso da minha vida... Que nunca vou conseguir assimilar o que realmente aconteceu... Nunca me tinhas dito que aquilo era errado, nunca ninguém me tinha avisado que aquilo não se fazia... Não sei... Nunca te contei ao certo o que aconteceu, só ouviste a versão da mãe deles... Que me apanharam sem roupa interior na garagem da Patrícia, com ela, o irmão e um amigo dele... Não ficaste a saber que eles faziam chantagem comigo e com a Patrícia, para conseguirmos brincar com as coisas deles... Não passávamos de miúdas... E a Patrícia só tinha 6 anos... Suponho que fosse normal, pelo menos foi o que aprendi em psicologia, mas faz-me sentir suja... Eles eram mais velhos, já tinham 13 anos, sabiam que aquilo era errado... E não sofreram consequências nenhumas, nós é que apanhamos... Mas pronto, tu nunca soubeste disto e agora já passou e não tem a mínima importância... Se calhar tem, fez-me ter medo de ser tocada. Mas depende da pessoa... Com o Marco não acontece isso... No início estremecia um pouco, mas agora parece tão natural eu encolher-me contra ele... Enfim... E a Bela, que jogava enforcado comigo, à noite, enquanto tricotava mais uma das suas camisolas... Ou quando eu insistia que queria aprender inglês e lhe pedia uma listinha de palavras em inglês para eu treinar a ler... E também me ajudou a ganhar gosto pela matemática e desde então que adoro equações e inequações e esse tipo de coisas, apesar de já não ter prática nenhuma e só saber o básico... E de como ela me lia livros da Disney à noite para eu adormecer... E o meu padrinho até me ofereceu um candeeiro do Pato Donald que ainda hoje tenho... E deitava-me no chão da sala, lembras-te, a ver os filmes e os desenhos animados... Levantava-me tão cedo para ver televisão que até assustava... E também me chateavas, porque o chão era frio e eu ia ficar doente... Então, eu punha umas almofadas por baixo, para ficares contente... E a Fátima... A minha madrinha... Que eu chateava imenso na altura das festas, porque queria duas prendas, uma de irmã, outra de madrinha... E como ela gostava de bordar... Mas como estava sempre nervosa e a gritar com toda a gente e eu tinha medo dela... Ou eu e o Daniel, o meu vizinho, de como passavamos a vida a brincar no pátio, apesar da avó dele não querer muito... De como na Páscoa andavamos sempre a correr as casas todas para acompanhar o compasso e comer amêndoas de chocolate... De como ele aprendeu a andar de bicicleta comigo e entramos para o hockey juntos, apesar de termos desistido logo a seguir... Ou como passavamos noites inteiras a bater na parede do quarto, porque o nosso quarto ficava colado um ao outro... E de uma vez estarmos sentados no pátio e ele ter-me mostrado a "pilinha" dele e eu ter achado aquilo tão horrível que tapei os olhos e desatei a gritar... Achas isto estúpido, mãe? Eu lembrar-me de tanta coisa? Também me lembro que tava a jogar ao "Mamã dá licença?" com o Daniel e os vizinhos quando tropecei no passeio e parti o pulso, e fiquei com a cara num bolo porque raspei na parede em picos... E como foi a Paula que foi comigo ao hospital... E parti a perna e foste buscar-me à escola, logo no primeiro dia de aulas de educação física... E de como me doeu muito, porque o homem me endireitou o osso a sangue frio... Ou quando fui operada à apêndice e ainda me obrigaste a esperar pelo padre, porque era Páscoa e o compasso devia estar a chegar... E quando me levaste ao hospital, já tinha uma apêndicite aguda... Mas eu fui forte e aguentei... E no 5º ano, que nos pusemos a escrever nas paredes dos balneários das raparigas e fomos apanhadas e ninguém se queria acusar, e eu disse que tinha sido eu, e tive a limpar tudo com lixívia e sujei as minhas jardineiras todas, e quando viste ficaste furiosa e eu tive de te contar o que tinha acontecido... Lembro-me de tanta coisa... Mas algo que mais me marcou foi a tua reacção à morte do avô... Ele tinha estado doente e estava no hospital... Um dia à noite ligaram para casa e disseram que ele tinha morrido... Estavas na sala grande... E deste um grito e chamaste pelo pai... E eu estava a lavar a loiça e quase deixava cair um prato... Ficamos todas sentadas no sofá, o Rui também já lá estava, e choramos em silêncio... E o pai veio ter comigo e disse-me que eu podia chorar à vontade e eu chorei agarrada a ele... E no velório, eu n queria ir, mas eu tinha de ir... E vi-o ali, deitado no caixão, com a cara tapada, e senti-me tão mal, tão mal, que desatei a chorar, com a cabeça encostada às costas da Paula... Foi a última vez que me lembro de ter chorado em frente a alguém... Tirando com o Marco... Eu nunca o fui ver ao hospital... Não sei de que é que ele morreu... Nunca me vou perdoar... Lembro-me que foi no 7º ano... E que não paráva de repetir que ele tinha ido numa viagem e que ia voltar... Mas lembro-me de tudo... Não sei se são importantes ou não estas recordações... Eu gostava de acreditar que sim, que querem dizer alguma coisa, que explicam quem me tornei... Mas não sei... Não sei, mãe... E nisso, nem tu me podes ajudar..."