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terça-feira, maio 31, 2005



Será?

domingo, maio 29, 2005

Se perguntarem por mim, digam que voei...

Sérgio, in http://prozacsavestheday.blogspot.com/
Iron & Wine - The Trapeze Swinger

Please remember me happily, by the rosebush laughing with bruises on my chin the time when we counted every black car passing your house beneath the hill and up until someone caught us in the kitchen with maps, a mountain range, a piggy bank, a vision to remove dimensions
But please remember me fondly. I heard from someone you’re still pretty and then they went on to say that the pearly gates had some eloquent graffiti like "we’ll meet again" and "fuck the man" and "tell my mother not to worry" and angels with their gray and shades but all is done in such a hurry
And please remember me at Halloween making fools of all the neighbors our faces painted white by midnight we’d forgotten one another and when the morning came I was ashamed only now it seems so silly that seasons left the world and then returned and now you’re lit up by the city
So please remember me mistakenly in the window of the tallest tower call and passes by but much to high to see the empty road at happy hour gleam and resonate just like the gates around the holy kingdom with words I’ve lost and found and don’t look down did someone save temptation
And please remember me as in the dream we had as rug burn babies among the fallen trees and fast asleep beside the lions and the ladies that called you what you like and even mine give a gift for your behavior of lead and chance to see a trapeze swinger high as in a savior
But please remember me, my misery and how it lost me all I wanted those dogs that loved the rain and chasing trains the colored birds above they’re running in circles round the well and where it smells on the wall behind St. Peter so bright on cinder gray and spray paint. who the hell can see forever?
And please remember me soundly in the car behind the carnival my hand between your knees you turn from me said the trapeze act was wonderful but now were meant to last the clowns that passed saw me just come up with anger when it filled the circus dolls the parking lot had an element of danger so please remember me finally and all my uphill crawling my dear but if I make the pearly gates I’ll do my best to make a drawing of God and Lucifer, a boy and girl, an angel kissing on a sinner, a monkey and a man, a marching band all around a fractured trapeze swinger.


Ao ouvir músicas como estas, imagino tu e eu, no meio da sala, a dançarmos... Mais um abraço do que propriamente uma dança... Mas... Um daqueles momentos, sabes? Quase à filme? Em que, sem combinarmos, olhamos um para o outro, nos levantamos, tu a fixar-me com esse teu olhar profundo e eu meio embaraçada, e nos encontramos no meio da sala, em cima de um tapete escuro, rodeados de almofadas e velas... E ficamos a olhar-nos um ao outro durante o início da música, até que damos o primeiro passo juntos... Os teus braços envolvem-me cuidadosamente e eu pouso a minha cabeça sobre o teu peito, ouvindo o bater do coração... E movimentamo-nos lentamente, ao som da música, não da que está a tocar, mas da nossa... A nossa música, a nossa dança, o nosso abraço, o nosso momento... Mas nunca seria possível... A vida não é um filme... Provavelmente estarias sentado a um canto da casa, encolhido e com o teu olhar profundo focado nalgum ponto da tua vida... Eu? Eu ficaria a ouvir a música sentada no sofá, com os braços a rodear os joelhos, de lágrimas nos olhos, ao saber-te mesmo ali ao lado, mas tão distante... Ou então vejo-te a dançar com alguém, sim... Mas não comigo... Vejo-te naquele momento com alguém que tem o meu aspecto, mas que não sou eu... Que nunca serei eu... Eu seria incapaz de partilhar um momento desses, estrago-o sempre... Mas imagino-nos aos dois... A dançar ao som daquela música... E pergunto-me, não se te lembrarás de mim sorridente, dos nossos momentos, dos nossos sonhos, das merdas que te fiz, dos problemas que criei... Mas se te lembrarás de mim... Apenas isso... Ou se vou fazer parte das que se atiram para trás das costas e só são lembradas de vez em quando, quando dão notícias... Seria tão bom partilhar aquela dança... Arrumar os móveis a pontapé, lembras-te? E dançar ao som da nossa música? Please... Remember me...

sábado, maio 28, 2005

Às vezes, gostava de te poder afectar como me afectas a mim, nem que fosse só um bocadinho. Mas não. Não vou deixar que vejam o quanto me afecta. Não me vou virar para ti, ou para quem quer que seja e dizer "Vai-te foder! Desaparece!". Sabes porquê? Porque eu não sou assim. Porque mantenho tudo cá dentro. Todos os meus podres só saem quando têm de sair. Porque toda a raiva e mágoa que sinto cá dentro, é aqui que tem de ficar. E não lá fora. Pertence-me, é meu, de mais ninguém. Não tenho o direito de dar os meus podres a outra pessoa. Tenho de guardá-los e viver com eles. E esperar que não me incomodem muito. O que é que eu tenho para dar? Queres que te dê toda a minha fúria, a minha raiva, que grite contigo, que te bata, que te empurre? Que te mostre todo o meu ódio porque não percebes o quanto um simples gesto ou um simples não-gesto teu se assemelham a bofetadas na minha cara? Ou o meu ódio por simplesmente não te importares? O meu ódio por te teres ido embora, por me ter ido embora, por te ter mandado embora? O meu ódio por ninguém me perceber realmente e não parárem de me dizer o que devo e não devo fazer, sem perceberem que EU NUNCA FAREI O QUE ELES QUEREM? O meu ódio por me terem posto nesta merda de mundo? O meu ódio por todas as vezes que respiro? O meu ódio por todas as vezes que ganho a noção de que não sou nada neste mundo, nunca serei, e que não há nada que eu possa dar, por mais que queira? O meu ódio por ter mandado a única coisa que fez sentido em toda a minha vida para o lixo...? O meu ódio por saber que, se voltasse a ter a oportunidade, voltaria a acontecer o mesmo...? Queres ver o meu ódio? Queres ver ao estado deplorável em que cheguei, em que tudo o que faço me mete nojo, e ainda assim continuo com a máscara da indiferença, para que os outros não vejam aquilo que sou, o nojo de pessoa que sou? Sabes que mais? Vai-te foder. E tu também. E tu, e tu, e tu... Os que não vêem, os que fingem que não vêem, os que vêem e não fazem nada... Sou uma amostra de pessoa. Tinhas razão. Ninguém é perfeito. Nunca pensei foi chegar a este ponto, tão baixo. Em que tenho de usar uma máscara para mim própria, para conseguir ter um único momento de descanso por dia. Fugir de mim. Fingir que eu, não sou eu. Fingir que eu não existo. E ainda assim, é impressionante como a mais simples coisa me continua a afectar tanto e a me deitar abaixo. De maneira a fazer-me afastar de todos os que eram mais próximos. Impressionante... Simplesmente impressionante... Oh, don't worry. I'll live. I always do, right?

sexta-feira, maio 27, 2005

Devaneios...

Não quero ser mais uma. Mais uma pessoa, mais uma filha, mais uma neta, mais uma aluna, mais uma colega, mais uma conhecida, mais uma amiga, mais uma namorada... Mais uma que foi só uma num instante para depois passar a ser apenas mais uma. Não quero que alguém seja apenas mais um na minha vida, mas também não quero que sejam só um porque podem passar a ser apenas mais um. Por isso não digo a ninguém que é só um para mim, porque a partir do momento em que semelhante afirmação sair da minha boca passa automaticamente a estar em risco. E muito provavelmente falhará. Muito provavelmente deixará de ser só um para passar a ser mais um. E enquanto é só mais um, já não é muito mau, pior é quando se é apenas mais um. Aí, é como se não tivessemos tido utilidade alguma para essa pessoa, como se não passassemos de um grande NADA que nunca foi nem há-se ser um TUDO. As coisas são tão complexas, existem um sem fim de hipóteses, de possibilidades e quanto mais se pensa nisso mais complexo e vasto se torna. Tenho saudades do tempo em que não me importava se era mais uma, se era apenas mais uma ou se era só uma. Ou em que simplesmente não pensava nisso. Como é que eu fui complicar tudo? O que é que me deu? Tenho medo de me comprometer, sempre tive. Nunca pensei muito nisso. Implica tanta coisa que nem me atrevo sequer a pôr a hipótese de o fazer. Das únicas vezes que o fiz, arrependi-me. Pensei sempre duas vezes antes de aceitar, logo nunca deveria ter seguido em frente com aquela fantochada. Da primeira vez, aceitei porque... Bem, é vergonhoso, mas aceitei porque tive pena dele, e porque ele tocava piano para mim... Mas acho que em Madrid abri os olhos (talvez por lá não haver piano). A segunda... A segunda foi um desafio. Uma oportunidade. Estava destinada a falhar. Logo desde o início, quando ouvi o meu coração dizer que não o devia encontrar, que ele ia querer mais, que as coisas iam ganhar outras dimensões e eu não queria isso. Acabou de qualquer das maneiras. E agora... Aqueles sonhos eram realidade para mim. Era suposto ter acontecido. Eu nunca me questionei sobre se daria certo ou não. Simplesmente ia acontecer e seria fantástico. Mas de repente já não era tão certo assim. Uma merda, é o que é. Perdi tudo o que alguma vez tive e agora são só fios soltos cá dentro, cheios de nós. Fios que me constituem e me suportam. De cada vez que tento desatar um nó, dói. Puxo e arranco e tento cortar com os dentes, apenas para me magoar ainda mais e cair no chão, com menos um suporte. Contigo era diferente... Contigo sempre foi diferente. Eu via-me em ti! Mas agora... Agora estou igual a sempre. Agora é igual. Agora estás apenas na minha cabeça, és muitos dos fios emaranhados que me fazem assim. Amar-te não chega. Nunca chegou. O amor para mim não é nada. É instável, inseguro, magoa mais do que alivia, é um sufoco, um espinho no peito. Sempre tive medo dele. Sempre tive razão em receá-lo. It's here now and there's no fucking way back. E por isso fujo do mundo, por isso fujo das pessoas. Há gente que simplesmente está destinada a ficar sozinha. E outra que escolhe essa opção. Não queria ser apenas mais uma... Mas no fundo, não passo disso nesta vida.
Amar-te dói. Dói e choro.

quarta-feira, maio 25, 2005

ég gaf ykkur von sem varð að vonbrigðum...

Já mencionei o quanto odeio estar fechada num sítio pequeno, rodeada de gente? Do quanto odeio que me toquem? Que respirem o mesmo ar que eu, que me olhem, que vivam as suas vidinhas irritantes à minha volta? Nestes momentos, sou apossada da vontade irracional de os mandar todos à merd*, isto quando não imagino uma bomba ou balas, muitas balas. Ponho o som do discman no máximo, mas continuo a ouvir zombidos, tento ficar no canto mais afastado, mas parece que nunca é afastado o suficiente, que reparam sempre em mim. Aquela sensação de sufoco, de nos sentirmos presas num mundo de caçadores, um ser negro rodeado de brancos, o simplesmente ter a sensação que não pertencemos aqui. Simplesmente. Não é simples, mas simplesmente essa sensação. Quero uma saída, uma janela que me envolva com uma golfada de ar, me dê aquela sensação de liberdade outra vez, ar puro e fresco, uma floresta pela minha frente, o cheiro a orvalho e plantas, os sons dos animais e das folhas... Preciso que me cortem deste cenário. Simplesmente não pertenço aqui. Nem aqui, nem ali, nem noutro lado qualquer. Não sei onde pertenço. Não sei o que devo fazer a seguir. Limito-me a deixar-me ser guiada pelos outros, pelo que sou suposto fazer, porque isso pelo menos sei o que é, sei o que é certo, seguro. Não que isto seja seguro. Não é, deixa-me vulnerável, insegura, constantemente amedrontada e escondida por detás de um sorriso aparentemente resplandecente. Aparências, fachadas, panos por cair. Panos que caem. Panos que se levantam. E onde estou eu no meio disto tudo? Quem sou eu no meio disto tudo?

segunda-feira, maio 23, 2005

Vendo o que vivi, o que vivo e as possibilidades que ainda tenho para viver, apercebo-me, com angústia, que nada me prende a este mundo. Mostra-me algo pelo qual me apaixone, ao qual me agarre e lute por ele, algo por que viver. Assim, sem projectos, sem planos, sem esperanças ou sonhos, é tudo uma grande indiferença para mim. Tudo. Não vivo, existo. Não vivo, apenas o bater do coração e o meu corpo me agarram a este mundo. Sorrio, falo, trabalho, passeio, existo para os outros. Cá dentro, apenas choro porque não é culpa minha. Não me deram oportunidade de escolher, simplesmente atiraram-me para aqui. E quanto mais olho em volta, mais vontade tenho de baixar os braços e desaparecer. Já não falta muito... Caminho a passos largos para a invisibilidade. Daí até ao nada, são dois segundos. Todos estamos sós. E podemos por momentos pensar que não e agarrarmo-nos a esse pensamento, mas quando a noite chega e com ela traz a doce escuridão, apercebemo-nos de facto do que somos e do que nunca deixará de ser. Continuo de mão estendida, mas afastei-me. Cada vez mais. Não aqui. Ali. Onde me podes ver, onde te posso ver. Mas não alcançar... E as minhas lágrimas são salgadas outra vez... Têm vida própria... A minha garganta toda arranhada pelo esforço de conter os soluços... O meu peito cheio de dores por não os conter... O meu coração a bater depressa demais a toda a hora... Deixei-me cair... Nos meus próprios braços... E não tenho força para me levantar... Estou tão cansada... Só quero paz, um fim... Descanso... Ou algo que me dê força para me levantar... Vou-me deitar... Passo a vida deitada ultimamente... A ver o sol movimentar-se, as sombras no meu quarto... O espanta-espíritos a ondular suavemente... O espelho a reflectir a luz do sol pelas paredes, projectando focos de brilho... Até o tempo é indiferente... Sinto-me a morrer um bocadinho a cada dia que passa e não sei se sou capaz de o parar a tempo... It's all just so wrong... I feel so wrong... O que é feito da rapariga que se divertia, que dançava pelos cantos da casa, que falava ao telefone horas a fio, a contar as novidades todas às amigas? A rapariga que se dava bem com todos e que gostava de ouvir os outros e transmitir imagens positivas? A rapariga que não se preocupava com estas questões, sobre quem era, o que ia fazer a seguir, o que gostava, o que fazia sentido, o que estava certo. She's so dead... I killed her... Why...? How did I become this...-- this *thing* I hate? Gosh, I'm so fucking lost...

sexta-feira, maio 20, 2005

"Tu dizes-me "faço-te feliz". Sabes que me fazes infeliz. Sabes que apesar de o meu sorriso se estender de orelha a orelha, tu me fazes infeliz. Sabes que apesar de me fazeres rebolar no chão de tanto rir me fazes infeliz. Sabes disso porque, apesar de tudo o que o meu rosto faça, tudo o que o meu nariz faça, tudo o que eu diga, os meus olhos estão tristes. Os meus olhos estão cheios de lágrimas. Posso sorrir ou rir ou conversar, mas choro ao mesmo tempo. E sabes que é por tua causa."

Vique Martin, Simba 8

quarta-feira, maio 18, 2005

Divagações.. (again)

"Às vezes tenho dias em que acordo angustiada, outros com raiva de mim própria, com raiva do mundo, outros em que simplesmente não me importo. Hoje, durante o regresso a casa (após uma manhã a trabalhar e uma tarde a pastar - não fui a uma única aula, como de costume), um pensamento surgiu-me na cabeça: "Mas o que raio se passa comigo?! Em que é que tenho andado a pensar?!". E apeteceu-me logo escrever isto, antes que o pensamento se perca e eu não o consiga perceber nem justificar. Realmente, tu e eu, nunca seremos nada. É impossível, nós NUNCA teremos qualquer hipótese do que quer que seja. Tudo o que nos liga é isto, algo que nasceu no passado e que apenas se encontra vivo na nossa memória, ou então presente nos nossos corações, de uma forma demasiado vincada. Algo que existiu um dia, que foi maravilhoso, lindo, quase demasiado perfeito para ser verdade. Algo que se desmoronou a partir do momento em que se tornou importante, que apenas durou enquanto não era ligação a sério. E agora pergunto-me, isto que temos é o quê senão réstias daqueles tempos, migalhas microscópicas que nem juntas formam um todo, apenas partes sem sentido? O que é que nós temos senão a saudade, a terrível saudade do que foi e do que sonhamos que poderia ter sido? Sim, nós nunca viveremos os sonhos que partilhamos, nunca chegaremos sequer a entender-nos. Porquê agora? Porque é que ainda continuamos nisto, porque continuo a negar a mim própria a verdade, a dolorosa verdade? Porque é que apesar de tanto tempo passado (e acredita que já se passou muito, mas mesmo muito tempo) desde a última vez em que realmente nos compreendemos e faziamos sentido, porque é que depois desse tempo todo, continuo agarrada a ti, dentro de mim? Seria tão mais fácil ir embora, ou mandar-te embora... Mas não, contra toda a lógica, Amo-te. Contra toda a lógica e bom senso, tanto te quero como não te quero. Não, nós nunca vamos ter nada. E sabes? Ainda bem, porque nunca iria resultar, não duraria muito tempo. O que temos entre nós, esta... esta... nem sei como lhe chamar, sei lá... ligação!, não nos permite ir mais longe. Não me permite ir mais longe. Eu não te posso dar mais. Por amor de Deus, eu já me fui embora uma vez! Nós não somos estáveis! Tu também já te foste embora diversas vezes. Não temos confiança nisto. Ou melhor, eu não tenho confiança suficiente nisto. Não vou falar por ti, há muito que deixei de saber ou perceber o que ia na tua cabeça, as tuas atitudes. Talvez seja egoísta da minha parte. Sim, talvez seja. Mas, sinceramente? Apenas nos estamos a magoar cada vez mais. Porque o sentimento continua lá, a ligação ainda existe entre nós, ainda fazes parte de mim e eu ainda faço parte de ti. Mas tudo o resto perdeu-se. E eu gostava que tivesse sido diferente, mas não dá. Sabes porquê? Porque tudo correu muito bem enquanto o "sermos nós próprios" não foi um problema. Enquanto nos compreendiamos mas ainda não pensavamos em levar o que tinhamos a outro nível. A partir do momento em que o "eu" e o "tu" nos começou a incomodar, o "nós" foi-se perdendo. E eu cresci com ódio de mim própria, por ser quem sou, por fazer o que faço, por pensar como penso, e tu alimentaste esse ódio. Não sei se fiz o mesmo contigo. Certamente sim, até fiz. Eu espero que não. Já te fiz tanta coisa que se tivesse feito mais isso, não me surpreenderia nada. Mas dói. Dói porque enquanto não era "pessoal" eu sentia-me bem na minha pele contigo. Aceitavas-me tal como eu era. Mas depois, os meus podres vinham ao de cima todos os dias. E em vez de ganhar confiança em mim própria e consequentemente em ti, perdi tudo o que tinha. Aos poucos. Lentamente. Até um dia qualquer. Tenho vivido no presente, com o coração no passado e os olhos no futuro. Não percebes que sem ti não tenho mais nada? Ou melhor, tenho, mas que para mim não vale nada? E que dói ter a certeza que nós nunca vamos ser algo? E que me estás a pedir para mudar completamente a minha maneira de ser e que eu simplesmente não o consigo fazer? Que tenho andado a viver uma ilusão e que preciso dessa ilusão para aguentar o dia-a-dia? Que com um sorriso sincero teu, me derreto toda e me apetece sorrir até o dia acabar? Que quando fico em silêncio, quando tu dizes que eu deveria estar a falar e a descobrir respostas, é porque não quero, NÃO QUERO falar e deparar-me com a inevitabilidade do "ir embora"? Diz-me que não te sentes assim também... Ou aliás, deves dizer algo parecido com "só não somos algo porque tu não queres" ao qual eu vou responder com um silêncio e um olhar magoado, com lágrimas e soluços a desenharem-se no meu interior, que no fundo me faz sentir um monstro, uma pessoa má e capaz das maiores barbaridades e atrocidades do mundo, e que aos teus olhos, o faz conscientemente. Não. Nós nunca seremos nada. E agora, que finalmente abri os olhos para esta realidade, deixa-me agarrar-me a ti por mais dez minutos antes de te ires embora, e depois fechar-me no meu quarto e morrer lentamente até desaparecer de vez, porque o que nós tivemos um dia foi lindo mas eu perdi isso e não o vou recuperar nunca. Nunca mais vai ser igual. Eu não consigo e tu não consegues. Mas amo-te e amo o que tivemos, o que partilhamos. Amo as migalhas que temos agora, apesar de tu as odiares. E odeio-me contigo e sem ti."
Ao mesmo tempo que passei isto aqui, li o que escrevi. E neste momento, nesta precisa hora, apetece-me mandar tudo para o caralho e lançar-me nos teus braços a chorar. Estou farta. Preciso de ti aqui.

quinta-feira, maio 12, 2005

Nada p'ra fazer 1

É um dia como qualquer outro. Pleno de sol, uma leve brisa de Verão a acariciar os cabelos das jovens que se bronzeavam na areia, risos e gargalhadas das crianças, gritos dos pais, casais de namorados a passear à beira-mar, pescadores nas rochas, imóveis. Apenas se distingue pelo facto de não estares aqui. Sento-me nas dunas, impávida e serena. Já partiste há tanto tempo e a tua presença ainda continua tão forte, tão ligada a mim, tão dentro de mim... Todos os lugares onde vou me lembram de ti. Hoje decidi descer até à praia e refugiar-me no canto onde te encontrava sempre que te julgava perdido. Mas hoje não estás cá. Nem estiveste ontem. E no dia anterior também não. Reparo num casal de idosos sentado aqui perto, ele agarrado ao seu jornal, ela com o crochet, mas muito próximos um do outro, tão próximos que os pés se tocam. Parecem ausentes, dois seres individuais, cada um no seu mundo, mas quando o vento sopra com um pouco mais de força, ele agarra no chapéu dela para não voar, com um sorriso protector. Pergunto-me se teríamos sido assim, se chegassemos lá. Éramos capazes de ficar horas a olhar fixamente as ondas do mar e o horizonte, juntinhos, dois seres fundidos num só. Estes longos silêncios apenas eram interrompidos pelos teus sussurros: "Sabes que te amo, não sabes?". Eu não respondia... Apertava mais a tua mão na minha e por dentro sorria, sorria porque me amavas, a mim, eu que nem sabia porque estavas ali, o que tinha feito para te merecer. Agora sei que esse silêncio te incomodava. Sei o que esperavas de mim, que te respondesse, que me mostrasse, que desse pulos de alegria e que gritasse aos quatros ventos que sim, que sabia e que te amava também e que mais ninguém me podia fazer tão feliz quanto tu. Agora sei-o. Mas na altura, pensei que soubesses, que não precisasses que eu te dissesse. Errei. Errei durante meses, anos. E nunca percebi porque estava errada. Agora percebo, acho eu. Percebo porque te foste embora. Eu não te dava aquilo que querias, que precisavas. Respiro fundo e sacudo a areia distraidamente dos joelhos. Sou capaz de ficar aqui horas sem fim, até escurecer, sem me aperceber do movimento do Sol que desliza quase imperceptivelmente na direcção do oceano. De vez em quando, alguém repara em mim e, contrariamente ao racional, vê-me perguntar se estou bem. Sorrio levemente, de forma apática, e respondo: "Estou apenas à espera de uma pessoa." E eles desaparecem tão depressa quanto chegaram, e eu volto ao meu silêncio, ao meu esconderijo dentro de mim. Muitas das vezes sou a última a caminhar de volta pela praia, cabisbaixa, com as sandálias na mão. Mas não hoje. Hoje não me apetece ver o Sol fundir-se com a água e mergulhar nela, porque isso significa que foi mais um dia em que não vieste. Ainda é cedo e no entanto já me parece tão tarde... Nunca pensei que te fosses embora, nunca me imaginei nesta situação, sem ti. Por isso me recolho aqui todos os dias, rodeada por ti e por todas as nossas memórias. Nunca mais soube de ti... Foi como se não tivesses passado de um sonho e tivesse chegado a hora de acordar sem que eu estivesse preparada para enfrentar a realidade, sem ti. Tem piada, eu que nunca me deixei ligar a alguém, eu que punha e impunha barreira, agora passo tardes inteiras à tua espera, como um animal de estimação à espera do retorno do dono (ou apenas à espera do pedaço do coração que levaste contigo...).

domingo, maio 08, 2005

I'm glad you're here. Even though it hurts.

Hoje acordei a pensar que o fim está próximo... O fim está sempre próximo, há sempre algo a acabar e algo novo a começar. Mas hoje pensei no inevitável. Não vais estar sempre aqui. Tens a tua vida, como disseste ontem. E está a chegar a hora de partires... Sei que vais estar cá enquanto puderes, mas esse tempo não vai durar muito. Estás a acabar a faculdade, vais para estágio, começar a trabalhar... Vais começar uma nova etapa da tua vida. E vais deixar de ter espaço para mim, para nós. O que fazer com os nossos sonhos? Eu vou ficar no mesmo sítio, sabes onde me podes encontrar. Depois, eu própria terei de enfrentar mais uma etapa da minha vida. Uma já se aproxima a passos largos. E sinceramente, não faço ideia de como vai ser... É suposto erguer a cabeça e enfrentar o que está para vir? Lutar por objectivos na vida? Ontem pedi-te ajuda, desesperada bem sei, mas tu não viste o quanto eu estava desesperada... Ou se calhar até viste, mas reagiste da maneira mais lógica, racional... "Estás doida? Eu tenho a minha vida." Se me visses naquele momento, tinhas-me visto a cair... Sei que pareço uma criança, sei que achas que não tenho os mínimos motivos para me sentir assim, que não estou sozinha, que só sou infeliz porque quero. Pareço um pequeno animal indefeso e aterrorizado, encolhido a um canto, com medo de abrir os olhos. E tenho de me ir mentalizando que simplesmente não vais estar cá. But it just breaks my heart to know that... Tenho de ser forte, não é? Mesmo quando não passa de fachada? É confuso... Tenho de ser forte, ultrapassar a dor, mas sinto sempre como se fosse uma mentira, como se aquela "nova pessoa" não fosse eu, me estivesse a mentir a mim própria, a esconder-me. Disseste que me querias ver tal como eu sou, é o que te tenho mostrado. Mesmo no concerto dos The Gift, eu estava mesmo contente, e partilhei isso contigo. Mas os momentos bons são tão poucos... Não sei para onde me virar. Estou a seguir-te. Tenho tentado seguir-te. Aos tropeções, às escuras e com dificuldade, mas tenho seguido atrás de ti, estou a deixar-me guiar aos poucos. Não faço ideia aonde é que isto vai dar... Está tudo tão incerto, tão confuso, tão inseguro... Para onde vamos?

quinta-feira, maio 05, 2005

Recordações...

Já tinha isto escrito há algum tempo... Nunca tinha pensado em postar, porque não achava importante para a finalidade deste blog... Mas no fundo, acho que também tem a ver... Ficas a conhecer-me um pouco melhor... E é uma maneira de eu te contar as pequenas coisas que me lembro, que normalmente não dou muita importância... No meio disto tudo, há vários episódios que marcaram a minha infância/adolescência... Mas hoje em dia, não sei se os considero tão importantes como na altura. Estão presentes, mas com o tempo o seu significado foi-se perdendo...

"Mãe... Após estes anos todos de convivência, após guerras e batalhas, lágrimas e berros, mas também sorrisos e risos, danças e cantos, continuas a ser uma das duas pessoas pessoas capazes de me dar aquele bocadinho de paz de que eu realmente preciso mal acordo e quando chego a casa depois de um dia longe de tudo... Não sei como ainda não te cansaste de mim, eu abuso de ti, abuso dos teus braços, do teu abraço, do teu colo... Mal te vejo, é como se naquele momento só tu me pudesses fazer sentir protegida. Então, abraço-te, dou-me mil e um beijos, deito a cabeça no teu ombro, ou sobre a tua barriga e abraço-te até não poder mais... Talvez isso seja a minha forma de dizer o quanto gosto de ti... Às vezes, um gesto é muito mais simples do que mil palavras... Mas hoje, esta noite, tive medo... Tive medo que não gostasses de mim... Que estivesses farta de mim... Porque também gritas comigo às vezes, quando eu exagero... "Larga-me!", dizes tu... E eu largo, já com o coração aos pulos no peito, de medo... Mas logo estás lá a "chatear-me" a cabeça, de forma a que eu me possa abraçar a ti de novo, nem que seja para te fazer cócegas e ver-te gritar o meu nome enquanto te ris... Gosto muito de ti, mãe... Apesar de nunca ires ver isto, gostava de te poder dizer o quanto és importante para mim e o quanto tenho medo de te perder... E como tenho medo, porque esse momento aproxima-se muito mais depressa do que deveria... Nunca disse isto a ninguém... Quem me conhece, nunca imaginaria que passo a vida agarrada a ti quando estou contigo... Na verdade, mãe, tenho dificuldades em agarrar-me a outra pessoa, apesar de nos últimos tempos me parecer bastante natural com ele... Talvez por ser diferente... Talvez por tu seres a minha mãe... Não é que eu tenha vergonha de ti, de admitir que gosto de me refugiar no teu abraço... Mas às vezes receio que ninguém compreenda... E não consigo demonstrar esta atitude para mais ninguém, a não ser com ele, e mesmo assim, às vezes tenho receio, receio de demonstrar demais... Mas hoje, esta noite, quis que soubesses tudo o que significas para mim... E mesmo o pai, do pouco que me lembro dele durante a minha infância, e por muito que me chateie hoje em dia, lembro-me das vezes em que eu saía à rua, à noite, para o ver a descer a rua, a chegar do trabalho, qual D.Sebastião a surgir por entre as brumas... De como ele me ensinou a nadar no mar, desde cedo, para que eu nunca me afogasse... De como ele me segurava nas costas e na cabeça para me ajudar a boiar ou para saltar as ondas enormes, porque eu tinha medo, mas com ele à minha beira, nada de mal me podia acontecer... De como eu chorava de noite, a gemer por ti e por ele, com dores de barriga terríveis, e como ele se vinha sentar ao meu lado na cama e me fazia festinhas na barriga até as dores passarem e eu adormecer... De como tu e o pai se passavam quando eu ficava doente e tossia a noite toda, e de como se levantavam, preocupados mas também irritados, e me punham um pano embebido em vinagre na garganta, que eu tanto odiava, para me passar a tosse e eu conseguir finalmente dormir (e vocês também)... De como tu me contaste que quando eu era bebé chorava imenso e como o pai pegava em mim ao colo e me ia passear pelo pátio, a fazer-me festinhas nas costas, para me acalmar... De como todos os sábados e domingos à noite eu me ia deitar na tua cama, no teu lugar, e dava a mão ao pai e deixava-me adormecer... E quando vinhas para a cama, ele levava-me ao colo para o meu quarto e cobria-me e eu nem reparava... De como tu e eu iamos ao S.João todos os anos, e apanhavamos o pai no trabalho e iamos para a Avenida dos Aliados, para o meio daquela gente toda, eu tão pequenina, a segurar num martelo, e como me queixava porque estava sempre a apanhar com marteladas e com alhos-porros na cabeça, e não conseguia acertar em ninguém... E o pai nunca me largava a mão, tinha medo de me perder... E eu convencia-o sempre a comprar um algodão doce... Excepto da última vez... O último ano em que o pai foi trabalhar, que me comprou um gelado Dove de laranja... E eu queria ir para a Ribeira com a Filipa, mas nunca lhe pedi, porque sabia que não podia ir... De como desatei a chorar no meio de um ensaio do coro, porque tinhas acabado de me dizer que o pai tinha cancro... E eu não passava de uma pequenina e só sabia que o cancro matava e estava tão assustada... Chorei muito, mas fui visitá-lo ao hospital quando ele foi operado... Desde então, já me habituei que o pai tem uma saúde frágil... Assim como tu... Ou então o avô... De como ele me levava ao infantário sempre, e eu corria à frente dele a ver se me escondia dele, juntamente com o Daniel e os meus amigos do infantário que o avô também levava a casa... De como à vinda para casa e todos os sábados de manhã, parávamos no parque, e eu corria para os baloiços e ele ficava a dar-me lanço bem alto, e eu juro-te que quase conseguia tocar na estrela... Ou como ele me ensinou a jogar damas bem cedo, e eu aproveitava sempre que ele olhava para a televisão para fazer batota, e ele dizia que eu tinha feito batota, mas deixava-me ganhar na mesma... E como eu gostava de brincar aos supermercados com uma cadeira ao contrário e ele me ia comprar legos, bonecas, roupas, escovas, o que eu tinha mais à mão para fazer de conta que era comida... E quando eu fiquei muito doente uma vez, a arder em febre, e a vomitar sem parar, ele sentou-se atrás de mim no sofá e fez-me festinhas na cabeça para me acalmar... De como às quintas-feiras eu ia comer sempre a casa dele e da avó, deliciada com o frango que a avó fazia, e a salada... E ficava encantada com as histórias que a avó me contava, sobre a vida dela... De como o avô se apaixonou pelo cabelo dela, mas o bisavô, no dia do casamento, mandou que lhe cortassem o cabelo, e quando ela entrou na igreja, o avô teve uma desilusão tão grande que chorou... Ou como era suposto tu teres tido 4 irmãos, mas a avó teve dois abortos espontâneos... E como a avó me mostrava sempre a fotografia dela em bebé, com um vestido tão bonito... E a tua também... Eras a menina dela... E eu tinha sempre a mania de passar pela sala no final do almoço, para ir buscar uns rebuçados à taça de vidro... Mas só os de morango e os de limão... Os outros não gostava... Ou as manas... A Filipa, como passava a vida a sair... E quando ela estava em casa, eu corria até ao sótão e ficava a vê-la estudar na mesa, com o candeeiro com a águia azul colada por cima dela... E como me deitava na cama dela e me deixava adormecer até ao jantar, só a ouvir a música dela, e ela a escrever... Ou quando desabafava com ela sobre aquele rapaz lá da escola e sobre como escrever uma carta para o dia dos namorados... E como ela desenhava bem! Sempre a tentei imitar, sempre quis ser como ela... Ela parecia-me sempre tão fixe! Mas não me emprestava os lápis de cor dela... E aí eu fazia birra e chorava e dizia que queria usar aqueles lápis de cor... Ou a Paula... Que acordava sempre toda despenteada, com as tranças desfeitas, do pijama dela branco com bolinhas pretas... ou da camisola com um pé e uma pulga e ela me cantava aquela música do "Atirei o pau ao gato" mas na versão da pulga... Como ela me conta que me mudou as fraldas de pano e como uma vez se sujou toda, no hospital, com uma fralda minha e que eu era nojenta... Como foi ela que me ajudou com Física e Química no 9º ano, porque eu não pescava nada daquilo... Ou de como a vi um dia a fazer depilação com umas bandas de cera e pensei que fosse fita-cola e fui lá para baixo e e pus-me a arrancar os pêlos (inexistentes) das minhas pernas até que tu viste e gritaste comigo... E como eu queria coleccionar os cromos do rei leão e comprei a caderneta às escondidas, mas tu descobriste e ouvi um sermão enorme... Nada comparado àquele dia... Àquele dia em que me bateste mais do que nunca... Aquele dia que até hoje, é o dia mais confuso da minha vida... Que nunca vou conseguir assimilar o que realmente aconteceu... Nunca me tinhas dito que aquilo era errado, nunca ninguém me tinha avisado que aquilo não se fazia... Não sei... Nunca te contei ao certo o que aconteceu, só ouviste a versão da mãe deles... Que me apanharam sem roupa interior na garagem da Patrícia, com ela, o irmão e um amigo dele... Não ficaste a saber que eles faziam chantagem comigo e com a Patrícia, para conseguirmos brincar com as coisas deles... Não passávamos de miúdas... E a Patrícia só tinha 6 anos... Suponho que fosse normal, pelo menos foi o que aprendi em psicologia, mas faz-me sentir suja... Eles eram mais velhos, já tinham 13 anos, sabiam que aquilo era errado... E não sofreram consequências nenhumas, nós é que apanhamos... Mas pronto, tu nunca soubeste disto e agora já passou e não tem a mínima importância... Se calhar tem, fez-me ter medo de ser tocada. Mas depende da pessoa... Com o Marco não acontece isso... No início estremecia um pouco, mas agora parece tão natural eu encolher-me contra ele... Enfim... E a Bela, que jogava enforcado comigo, à noite, enquanto tricotava mais uma das suas camisolas... Ou quando eu insistia que queria aprender inglês e lhe pedia uma listinha de palavras em inglês para eu treinar a ler... E também me ajudou a ganhar gosto pela matemática e desde então que adoro equações e inequações e esse tipo de coisas, apesar de já não ter prática nenhuma e só saber o básico... E de como ela me lia livros da Disney à noite para eu adormecer... E o meu padrinho até me ofereceu um candeeiro do Pato Donald que ainda hoje tenho... E deitava-me no chão da sala, lembras-te, a ver os filmes e os desenhos animados... Levantava-me tão cedo para ver televisão que até assustava... E também me chateavas, porque o chão era frio e eu ia ficar doente... Então, eu punha umas almofadas por baixo, para ficares contente... E a Fátima... A minha madrinha... Que eu chateava imenso na altura das festas, porque queria duas prendas, uma de irmã, outra de madrinha... E como ela gostava de bordar... Mas como estava sempre nervosa e a gritar com toda a gente e eu tinha medo dela... Ou eu e o Daniel, o meu vizinho, de como passavamos a vida a brincar no pátio, apesar da avó dele não querer muito... De como na Páscoa andavamos sempre a correr as casas todas para acompanhar o compasso e comer amêndoas de chocolate... De como ele aprendeu a andar de bicicleta comigo e entramos para o hockey juntos, apesar de termos desistido logo a seguir... Ou como passavamos noites inteiras a bater na parede do quarto, porque o nosso quarto ficava colado um ao outro... E de uma vez estarmos sentados no pátio e ele ter-me mostrado a "pilinha" dele e eu ter achado aquilo tão horrível que tapei os olhos e desatei a gritar... Achas isto estúpido, mãe? Eu lembrar-me de tanta coisa? Também me lembro que tava a jogar ao "Mamã dá licença?" com o Daniel e os vizinhos quando tropecei no passeio e parti o pulso, e fiquei com a cara num bolo porque raspei na parede em picos... E como foi a Paula que foi comigo ao hospital... E parti a perna e foste buscar-me à escola, logo no primeiro dia de aulas de educação física... E de como me doeu muito, porque o homem me endireitou o osso a sangue frio... Ou quando fui operada à apêndice e ainda me obrigaste a esperar pelo padre, porque era Páscoa e o compasso devia estar a chegar... E quando me levaste ao hospital, já tinha uma apêndicite aguda... Mas eu fui forte e aguentei... E no 5º ano, que nos pusemos a escrever nas paredes dos balneários das raparigas e fomos apanhadas e ninguém se queria acusar, e eu disse que tinha sido eu, e tive a limpar tudo com lixívia e sujei as minhas jardineiras todas, e quando viste ficaste furiosa e eu tive de te contar o que tinha acontecido... Lembro-me de tanta coisa... Mas algo que mais me marcou foi a tua reacção à morte do avô... Ele tinha estado doente e estava no hospital... Um dia à noite ligaram para casa e disseram que ele tinha morrido... Estavas na sala grande... E deste um grito e chamaste pelo pai... E eu estava a lavar a loiça e quase deixava cair um prato... Ficamos todas sentadas no sofá, o Rui também já lá estava, e choramos em silêncio... E o pai veio ter comigo e disse-me que eu podia chorar à vontade e eu chorei agarrada a ele... E no velório, eu n queria ir, mas eu tinha de ir... E vi-o ali, deitado no caixão, com a cara tapada, e senti-me tão mal, tão mal, que desatei a chorar, com a cabeça encostada às costas da Paula... Foi a última vez que me lembro de ter chorado em frente a alguém... Tirando com o Marco... Eu nunca o fui ver ao hospital... Não sei de que é que ele morreu... Nunca me vou perdoar... Lembro-me que foi no 7º ano... E que não paráva de repetir que ele tinha ido numa viagem e que ia voltar... Mas lembro-me de tudo... Não sei se são importantes ou não estas recordações... Eu gostava de acreditar que sim, que querem dizer alguma coisa, que explicam quem me tornei... Mas não sei... Não sei, mãe... E nisso, nem tu me podes ajudar..."

quarta-feira, maio 04, 2005

Last night...

Diz-me que aconteceu... Diz-me que estiveste lá... Diz-me que viste o meu olhar, aquele que raramente sai cá para fora... Quando me perguntaste se eu ficava bem, e eu respondi que remédio, e uma lágrima apareceu no meu olhar e eu me senti totalmente perdida e vulnerável... Não sei porque não fui ter contigo mais cedo... Acho que estava magoada... Ainda estou... Tinhamos prometido que iamos os dois à queima... E tu não foste comigo, foste com os teus amigos... E ainda por cima, tinhas estado a beber... Mas quando me disseste que estavas nos carrinhos de choque, não resisti... Tinha de te ver, tinha de estar contigo... Estar ali não fazia sentido se não fosse contigo... E assim foi... E depois disso, senti-me muito mais leve. Mesmo percebendo que estavas bêbado, e que provavelmente não te irias lembrar de nada do que tinhas dito, e eu já não sabia o que era efeito do álcool ou o que era mesmo verdade... "Já tinha saudades de sentir a tua respiração no meu pescoço..." Pequenas frases, pequenos momentos, pequenas emoções, mas que batem tão forte cá dentro... I was afraid... Estavas ali, nos meus braços e eu passava a vida a pensar que te irias arrepender... Não foi um sonho, eu sei que não... Mas ao mesmo tempo, pareceu-me exactamente isso... Quase irreal... E eu sei que estavas genuinamente preocupado, que se fosse escolha tua não me deixavas ali sozinha, mas mais uma vez doeu ver-te ir embora... A noite tinha chegado ao fim... E eu só te queria novamente nos meus braços e quem sabe embalar-te até adormeceres, sempre a olhar para ti e a fazer-te festinhas na face... "I'm happy you're here" It was true then and it is true now... Não sei se era o que esperavas ouvir, mas foi o que me saiu... I missed you too... E acho que, apesar de tudo o que aconteceu e apesar de achares uma falsidade total o que vou dizer, também te amo. Aqueles momentos contigo valeram ouro, tornaram-me a noite suportável e linda... Ou talvez isto seja apenas efeitos da febre... Mas não... Aquilo aconteceu e o que eu senti, ainda sinto, por isso, agarro-me mais uma vez a ti e sorrio, porque na noite passada, parecias um bebé e eu só queria cuidar de ti e dar-te mimos. I didn't want a kiss... It has nothing to do with it, it never did... Ficar abraçada a ti vale por mil palavras, mil gestos, mil... Sei lá... E a brincadeira com o nariz, again... Damn, I missed it so much... It wasn't a dream, was it?
Reflections in the Mirror