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domingo, junho 26, 2005

@ The Phantom of the Opera - Think of Me / All I Ask Of You
Não me apetece escrever.
Não sei o que escrever.
Não consigo escrever.
Agora percebo.
Apagou-se.
Think of me, think of me fondly when we've said goodbye... Remember me once in a while, please promise me you'll try when you find that once again you long to take your heart back and be free... If you ever find a moment spare a thought for me. We never said our love was evergreen or as unchanging as the sea... But if you can still remember, stop and think of me. Think of all the things we've shared and seen, don't think about the way things might've been. Think of me, think of me waking, silent and resigned. Imagine me trying too hard to put you from my mind. Recall those days, look back on all those times, think of the things we'll never do. There will never be a day when I won't think of you! Flowers fade, the fruits of summer fade, they have their seasons so do we. But please promise me that sometimes... You will think... Of me!
Say you’ll share with me one love, one lifetime... Lead me, save me from my solitude... Say you want me with you here beside you... Anywhere you go let me go too... Christine that’s all I ask of (you)…
Too many years fighting back tears, why can't the past just die! Wishing you were somehow here again, knowing we must say goodbye! Try to forgive, teach me to live! Give me the strength to try! No more memories, no more silent tears! No more gazing across the wasted years! Help me say goodbye Help me say goodbye...

-R.a.i.v.a-

Toranja - Ensaio

Não vês a Agonia a escorrer nas paredes
As portas não páram de
ranger
É como um corte que entra no tímpano
Não aguento o
barulho de dentro
Já não estou
Só!
Já não estou só eu a ouvir...
Já anda nas ruas!
Já comentam por aí!
Qualquer coisa não está bem...
Fala-se demasiado
A-L-T-O para quem está tão .l.o.n.g.e...
Fala-se demasiado
A-L-T-O para quem está tão .l.o.n.g.e...
Mas não tinha que haver PeDrAdA alguém levou por arr---astooooo.
Mas não tinha que haver PeDrAdA alguém levou por arr---astooooo.
A !LUZ! continua presa ao tecto
Por mais que se tente tirar
Está alta de mais
Ou
_e_n_c_a_n_d_e_i_a_
os olhos
Ou
QueimA quando se toca
Parece que sabe queimar
Parece que não tenho
janelas
Não entra ar aqui
Não entra
AR aqui
Tira a mão quente dos olhos
Tira o
frio
da frente
Já tenho tão pouca gente para
me encontrar
Desata-me os olhos, desata-me a cara
~desata~ o teu corpo dentro do meu
Tira-me a
VoZ que puseste no {t[e(m)p]o}
Que não está a querer ^desistir ^
De
pisar os membros no chão
De
arrancar os braços no tecto
Tira-me de mim, vá
!!!!¨T¨I¨R¨A¨-¨M¨E¨ D¨E¨ M¨I¨M¨!!!!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!

segunda-feira, junho 20, 2005

Jardim...?

Fernando Pessoa - Conselho

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.

Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.

Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...

sexta-feira, junho 17, 2005

Uma merda qualquer.

Foi naquele dia, lembras-te? Olhámos um para o outro e sorrimos. Por cima das nossas cabeças, uma tempestade de estrelas que deslizavam em todas as direcções. Tudo à nossa volta se desvaneceu naquele momento, enquanto eramos arrastados pela magnitude do olhar. Levantamos os pés da terra e voamos a noite toda, cavalgando nas estrelas, deslizando nas nuvens, dançando na lua. Sorríamos, a noite era nossa. Os medos desapareceram por detrás das constelações, recolhidos na escuridão que nos rodeava mas que nós ignoravamos pois a luz naquele momento eramos nós. Enfrentamos os asteróides de cabeça erguida e olhar decidido, ao som da música dos cometas. Das nossas costas nasceram umas asas, brancas e leves como as dos verdadeiros anjos, o que nos deu força para voarmos mais alto, sorrindo por estarmos no topo do mundo. E prometeste que nunca mais voltaríamos para baixo. Juntos, seríamos um e nada nos iria cortar as asas. E eu acreditei em ti. Fizemos promessas e juramentos perante as estrelas e Deus, com os anjos a nosso lado, abençoando a nossa união. Naquele dia soaram trompetes, houve uma chuva de luz, com leves plumas a esvoaçar em volta do meu rosto. Seguraste-me nos teus braços e ergueste-me bem alto e, apesar do meu sorriso maravilhado, fizeste-me olhar para baixo. Porque me colocaste num pedastal onde eu não pertencia e de onde conseguia ver a distância que nos separava da terra. Ao longe, vi os nossos medos espreitarem por detrás das constelações, esperando o momento certo para nos voltarem a atormentar. Vi os asteróides nas nossas costas, prontos para nos atacarem mal olhassemos para trás. Vi a terra, vi a solidão, as lágrimas, as facas, o sangue, as cruzes, o negro. O meu sorriso desvaneceu-se naquele momento e as minhas asas começaram a transformar-se. Olhei para ti, como se o nosso mundo estivesse prestes a desabar e tu voltaste a pousar-me no chão, com um ar confuso. Observavas as minhas mudanças sem as perceber, as minhas asas passarem de branco a cinzento e depois a negro como a escuridão da noite, os meus olhos a perderem o brilho, marcas negras de lágrimas que deslizavam pela minha face. Tentaste erguer-me de novo, mas as asas já eram demasiados pesadas e não as conseguia abrir sequer. Voaste à minha volta, a tentar ajudar-me, dizendo-me como fazer, incentivando-me. Mas encolhi-me e observei-te, enquanto chorava silenciosamente. Puxaste-me, abanaste-me, gritaste comigo, mas eu permanecia calada, com aquela dor incompreensível nos olhos. Até que chegou o momento. O momento de saltar. De cair. Viste-me aproximar-me do precipício que nos separava da terra e nada puseste fazer. Dos teus olhos, brotavam lágrimas que deixavam uma marca negra na tua face. As tuas asas tornaram-se negras e pesadas, o teu olhar era negro, mas repleto de ódio. E viste-me saltar e não fizeste nada. Enquanto caía, senti-me a ser sugada pelos terríveis asteróides, vi os medos correrem na minha direcção, vi-te atirares-te também, de lá de cima, não na minha direcção, mas de volta ao mundo negro chamado terra. Os anjos choravam a nossa desgraça, as estrelas desapareceram no céu, a lua virou-nos as costas. O pânico invadiu-me e, quando finalmente aterramos na terra, com as estrelas sobre as nossas cabeças, olhamos um para o outro e não sorrimos. Um vazio, aquele vazio, tinha-se apoderado de nós. Viraste a cabeça, ignorando-me e continuaste o teu caminho, com o par de asas que te dei, negras como todo o teu ser. Eu olhei o céu, as estrelas, a lua e chorei. Esperei por ti, por outra noite daquelas, mas tu nunca mais apareceste. E eu morri.

Toranja - Quebramos os Dois

Era eu a convencer-te que gostas de mim
Tu a convenceres-te que não é bem assim
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro
Tu a argumentares os teus inevitáveis

Eras tu a dançares em pleno dia
E eu encostado como quem não via
Eras tu a falar pra esconder a saudade
E eu a esconder-me do que não se dizia

Afinal quebramos os dois
Afinal quebramos os dois

Desviando os olhos por sentir a verdade
Choravas a certeza da mentira
Mas sem queimar demais
Sem querer extinguir o que já sabia

Eu fugia do toque como do cheiro
Por saber que era o fim da roupa vestida
Que inventara no meio do escuro onde estava
Por ver o desespero na cor que trazias

Afinal quebramos os dois
Afinal quebramos os dois
Afinal quebramos os dois
Afinal quebramos os dois

Era eu a despir-te do que era pequeno
Tu a puxares-me pra um lado mais perto
Onde se contam histórias que nos atam
Ao silêncio dos lábios que nos matam

Eras tu a ficar por não saberes partir
E eu a rezar para que desaparecesses
Era eu a rezar para que ficasses
Tu a ficares enquanto saías

Não nos tocamos enquanto saías
Não nos tocamos enquanto saímos
Não nos tocamos e vamos fugindo
Porque quebramos como crianças

Afinal...
Quebramos os dois
Afinal quebramos os dois
Afinal quebramos os dois
É quase pecado o que se deixa
Quase pecado o que se ignora

terça-feira, junho 14, 2005


Black Flowers Blossom (Click)
Josh Rouse - Sad Eyes
Southern style
Things are slow
You’re watching all the speeding cars
Moving like you wish you could
But oh, it’s too bad
Cause they’ve stolen all your happiness and good times

But I’m gonna get you into the light
And I’m gonna find a way that is right
And I’m gonna get you into the light
And make it okay

Sad eyes
You are the only one whose
Whose blue skies are gray
So don’t cry
You’ll be the only one to make them go your way

You’re so young
And so bored
You were staying out 'til late
Cause it was what your husband hated
But oh, it’s too bad
Cause he’s stolen all your happiness and good times

But I’m gonna get you into the light
And I’m gonna find a way that is right
And I’m gonna get you into the light
And make it okay

Sad eyes
You are the only one whose
Whose blue skies are gray
So don’t cry
You’ll be the only one to make them go away
Yeah you could make them go away

Took a lot of tears but all you had to find was
Sympathetic years, the ones you left behind yeah
Took a lot of tears but all you had to find was
Sympathetic years, the ones you left behind yeah

And I’m gonna get you into the light
And I’m gonna find a way that is right
And I’m gonna get you into the light
And make it okay

Sad eyes
You are the only one whose
Whose blue skies are gray
So don’t cry
You’ll be the only one to make them go away

Sad eyes (Took a lot of tears but all)
You are the only one whose (You had to find was)
Whose blue skies are gray (Sympathetic years, the ones you left behind)
So don’t cry (Took a lot of tears but all)
You’ll be the only one to make them go away (You had to find was)
Yeah you could make them go away
Yeah things are gonna go your way
Oh they're bound to go your way

segunda-feira, junho 13, 2005


Tira-me a vida cada corpo que passa
tudo és tu
e em alguém és nada.
O teu espaço mata,
o teu cheiro corrói,
amo para dentro
tudo o que foi.

O teu vazio pesa-me
quando grita por mim
desconfio que o meu corpo
não saiba mais que fazer de ti
amo por dentro,
para dentro,
para mim.
Tapo a boca ao amor
impeço-o de falar
não tendo ouvidos onde cair
começa a berrar.
Desfaz-me num grito
solto num som mudo,
o invertido toca-me
apodera-se de tudo.
Sou eu a ouvir gritos de socorro
e tu a pisares-me sem saberes que morro,
foi o erro de criar para nós
uma rua de um só sentido
somos nós a distância de um passo
longe no bom,
perto no perigo.

Sou eu a dar meio
e tu a dares dois,
és tu a seguir em frente
e eu a ficar para depois,
amo por dentro,
para dentro,
pelos dois.
É o desaparecer da vista
e o deixar da presença,
é o guardar na esperança
que o dono apareça,
é o amar para dentro
por dentro,
dos sós,
és tu já só tu
e eu ainda em nós,
por dentro,
para dentro,
de nós.

domingo, junho 12, 2005

Devaneios... (tarde demais?)

Sim... Hoje é um daqueles dias em que estamos tão em baixo que é impossível inserir-nos na vida real. É um daqueles dias em que espreitamos o mundo através de um vidro muito fosco. Em que estendo a mão na tua direcção, mas ela embate no vidro. Um dia em que tudo está errado. Não podia ser sempre como naquele dia no jardim? Em que ouvímos o piano? É esquisito... De cada vez que me lembro que acabou dá-me vontade de vomitar... De cada vez que me vejo incapaz de fingir, caio num estado tão deprimente que é impossível manter-me à tona nas minhas próprias lágrimas... Nunca me viste assim... Suponho que nunca verás. Apenas pudeste ver uma pequena demonstração de como fico. Uma pequena... Será que passou? Prometemos que estaríamos sempre aqui um para o outro... Não faz sentido... Não faz... Onde estás? Quero ver-te... Não para me acalmar, não para me sentir melhor... Quero ver-te porque não sei como estás... Dói que já não precises de mim... Dói que já não seja como naquela tarde. Já não sei o que dói. Dói-me tudo, não me dói nada. Será que nos habituamos à dor? Achas? E por isso nos tornamos incapazes de ter uma vida plena? Andamos sempre mergulhados na dor, muitas vezes sem a consciência disso? O que se passa connosco? O que aconteceu? Porque é que és capaz de ir embora e eu não...? Porque és capaz de te tapar com um manto tão negro que se torna impossível ver-te, e eu apenas me cubro de um vidro fosco, que mostra uma imagem de mim, mas não tudo? Estás a desaparecer... Já pouco reconheço das tuas costas lá ao fundo... Não te consigo prender aqui... Tento, mas não consigo. Adeus... Volta... Não... Não vou pedir que voltes... Vai mas acaba comigo de uma vez... Não vás simplesmente assim, porque levas contigo uma parte de mim sem a qual não posso viver. Vai, mas acaba comigo primeiro. Para que tu possas ter descanso e para que eu possa descansar. Não vás... Tarde demais... Tarde demais...

sábado, junho 11, 2005

Amor

- Estás bem?
- Sim, estou óptima.
- Então o que se passa contigo? Porquê esse olhar?
- Falta-me algo.
- O quê?
- Algo.
- Posso ajudar?
- Não.
- Porquê?
- Porque não sabes o que é.
- Diz-me.
- Não.
- Porquê?
- Porque não sei.
- Não sabes o quê?
- O que falta.
- Deixa-me ajudar-te.
- Não posso.
- Mas porquê?
- Porque não vais conseguir e vai doer ainda mais.
- Dói-te agora?
- Dói.
- O que é que te dói?
- Dói saber que ninguém me pode ajudar. Dói ser assim. Dói estares aí. Dói não estares.
- Deixa-me ajudar-te. Deixa-me caminhar a teu lado.
- Não.
- Porquê?
- Porque nunca me terás. Porque por mais que goste de ti, nunca me terás. Porque mais cedo ou mais tarde, vais acabar por te ir embora.
- Não. Não vai ser assim. Vai ser diferente.
Sorri.
- Porque sorris?
- Porque és um querido.
- Gosto de te ver sorrir.
- Mesmo que seja um sorriso falso?
- Tu é que os tornas falsos. Não penses tanto. Sente.
- Deixa-me.
- O quê?
- Deixa-me sozinha. Vai-te embora.
- Porquê?
- Porque não percebes que não é diferente.
- Mas porquê?
- Falta-me algo.
- O quê?
- Aquilo.
- Aquilo o quê?
- Aquilo que já tive e que deixei de ter. O que já fez parte de mim, mas que desapareceu. O que se perdeu no tempo.
- O quê?
- Não sei.
- Quem sabe?
- Ele.
- Ele quem?
- Ele que me perdeu. Ele que eu perdi. Ele.
- Onde está ele?
Chora. - Em todo o lado. Em nenhum. Aqui. Ali. Não está. Dói.
- Porque dói?
- Porque depois dele veio o vazio. Falta-me algo.
- É ele que te falta?
- Não... É o nós que me falta.
- Já sabes o que te falta?
- Não.
- Não percebo.
- Ninguém percebe.
- Queres que te deixe sozinha?
- Não. Fica.
- Deixas-me ajudar-te?
- Não podes. Mas fica. Não quero ficar sozinha.
- Tu já estás sozinha. E só o estás porque queres.
- Cala-te. Não percebes, não vês? Não me podes ajudar. Ninguém me pode ajudar.
- Não pode porque não queres ser ajudada.
- Vai à merda.
- Não quero. Quero ajudar-te. Quero-te ver sorrir.
Chora.
- Não chores.
- Não consigo.
- Eu fico aqui.
- Não, não ficas. Mas não tem mal.
- Não?
- Não. Porque eu também não fico.
- Um dia vais-te arrepender.
- Eu já estou perdida. Não posso perder mais nada.
- Amo-te.
- Não digas isso.
- Porquê?
- Porque não deves. Porque não quero que me ames.
- Porquê?
- Não percebes?
- O quê?
- Falta-me algo.
- Mas o quê?
- O amor.


The Juliana Theory - Goodnight Starlight

Close your eyes.
You're beautiful when you're sleeping.
Tonight may all your dreams come true.
It's so nice to hold you while you're sleeping,
When I'm sleeping next to you.
And what we've got is something special,
And what we are is a perfect match.
And 3000 miles could never come between us,
No matter what we do, it's always you and me and you and
It's always me and you.
I know sometimes it's lonely while you're sleeping.
Well, it's lonely for me too.
It's alright.
Just know that while I'm sleeping,
That I'm dreaming of you.
And what we've got is something special,
And what we are is a perfect match,
And 3000 miles could never come between us.
We always have the stars to wish upon from where I'm at,
And where you are.
Good night.
Good night.
Good night.
Good night.

quinta-feira, junho 09, 2005

A minha menina vai ser lutadora de boxe!


Pois é, pois é, a jovem moça que sempre quis ser bailarina desde o mais breve momento de gestação, decidiu afinal optar pela carreira de boxista. E apesar do pouco treino, já tem uma direita bastante forte! Força campeã! (a tua avó é o saco, utiliza à vontade :x)

Inês linda, agora mesmo :)
E sim, os olhinhos são mesmo meio azulados :D E infelizmente, estava vestida de verde-alface, mas isso não foi escolha minha. Está desfocada porque ela não pára quieta -.-

terça-feira, junho 07, 2005

@ A Silver Mount Zion - Built Then Burn (Hurrah! Hurrah!)
José Agostinho Baptista - Recomeço

Recomeço a partir de muito pouco,
nesta praia onde a areia, húmida e
sombria, erguida do sono,
se esvai por entre os meus dedos perdidos.
Recomeço a partir de uma única palavra,
de um ínfimo sinal que vi gravado nos
muros da tua cidade em ruínas.
Aí, nessa cal desaparecida,
vi, um dia, um pássaro imóvel, quase vivo,
com os olhos trespassados pelas agulhas do tempo,
inclinar-se e cair sobre as pedras mudas,
e esse pássaro eras tu,
ferida de morte,
afastando as lágrimas em vão.

Os nossos sonhos dissolvem-se lentamente onde os esquecemos...

Porque às vezes identificamo-nos com tantas coisas que é impossível mantermo-nos calados e não partilhar momentos com outra pessoa.
Porque às vezes descobrimos alguma coisa que nos ajuda a encontrarmo-nos um pouco.
Porque às vezes queremos tanto perceber.
Porque às vezes nos agarramos a algo com ambas as mãos, à procura de respostas, de semelhanças.
Porque às vezes choramos quando nos encontramos e nos perdemos mais um pouco.
Porque às vezes é difícil sermos nós.
Após alguma leitura (não exaustiva) de José Luís Peixoto, reuni aqui algumas coisas que me tocaram. De realçar principalmente o seu texto "Lunar".
José Luís Peixoto - Criança em Ruínas
Fingir que está tudo bem
fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos:
fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir
: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte:
fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga
.
Todo o amor do mundo não foi suficiente
todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. ficaram só
os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
os domingos e as noites que
passámos a fazer planos não foram suficientes e foram
demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas
.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora,
não irei negar isso.
não irei negar nunca que te amei. nem mesmo quando estiver deitado,
nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que
a amo antes de a foder.
José Luís Peixoto - Uma Casa na Escuridão
O frio daquela campa, daquele corpo e daquele amor definitivamente sepultado no interior da minha pele, em cada instante da minha pele de mármore, na cara, no pescoço, no peito. O meu corpo de carne ou de mármore: carne congelada, sangue congelado, escuridão congelada.
José Luís Peixoto - A Casa, a Escuridão
A Escuridão
tenho medo. de noite, quando não consigo dormir, a morte
ressuscita mortes. deitado sobre a cama, uma mão negra
desce do tecto para me tocar no peito. tenho medo. silêncio
e frio sobre o meu corpo. olho para dentro de mim e não
vejo nada. tenho medo. todos os que me chamam de dentro
da escuridão sabem que há uma casa com paredes antes
de mim, sabem que eu não sou aquele que ilumina o mundo.
tenho medo. quando não consigo dormir e prolongo as
noites, a culpa envolve-me de medo e frio, o silêncio diz-me
para esperar, pois o descanso virá com a noite maior,
a noite em que a manhã nunca chegará.
Jorge Luís Peixoto - Lunar
(...) Agora, neste momento, não sei onde estás. Imagino-te a fazer tantas coisas. Imagino-te a não te lembrares de mim. (...) Quando ainda era mesmo de noite e estavas ao meu lado, disseste: não podemos ser felizes. Eu desejava-te tanto. Eu via os teus olhos através do ar da noite, sabia que estavas a meu lado e sabia que nos íamos separar. Vi-te partir. Os teus passos a afastarem-te de mim. Eu estava parado perante o horror, o medo. Tu afastavas-te de mim. Entravas em casa, como se saísses para sempre de mim. Saías para sempre de mim. O momento em que fechaste a porta: eu soterrado por todo o negro, todo o veneno negro. Uma faca infinita. Eu a perceber que ficarás para sempre fechada dentro dessa casa. Nunca, nunca mais poderás sair. A noite, a rodear-me, era o lugar negro onde existiam certezas terríveis: a morte, a morte de tudo. Entre as paredes das casas, a tua casa. Os vidros das tuas janelas fechadas reflectiam a escuridão do mundo. Os meus olhos derramavam escuridão sobre o mundo. Estavas ainda perto de mim, olhava para o lugar onde sabia que estavas, a casa que te continha e, no entanto, aquela casa era um lugar escuro, um poço, era como se tivesses mergulhado dentro da imensidão negra que existe dentro de cada um de nós. Eu sabia que nunca mais te voltaria a ver. Eu desejava-te ainda. Agora, desejo-te ainda. Sei que existem cemitérios. Sei que a casa onde estás, o lugar onde te imagino a fazer tantas coisas, a não te lembrares de mim, é um lugar de destroços. Vivemos rodeados de cemitérios. Aquilo que fomos está enterrado à nossa volta e nunca poderemos saber onde deixámos tudo aquilo que não voltaremos a ver. (...) Os teus olhos eram um caminho. Os teus cabelos eram talvez um horizonte. Não sei como acreditámos que as palavras eram simples. Sonhávamos e enganámo-nos. Sorrindo, mergulhávamos os lábios no veneno quando pensávamos que bebíamos o antídoto.
(...) Quando era criança, temia a morte. Agora, envelheço tanto. Temo a morte mas sei que, se tentar fugir-lhe, estarei a correr na sua direcção. Caminho sobre as pedras do passeio. Ouço os meus passos debaixo do nevoeiro. Fujo da morte porque quero correr na sua direcção.
A memória como uma maldição. Caímos na eternidade e a memória é um peso, continua a prender-nos em qualquer ponto para onde nunca poderemos voltar. (...) Lembro-me de quando nos conhecemos e esse dia está debaixo do teu olhar e desta noite. Lembro-me da minha mão pousada sobre a tua e esse instante está debaixo da palavra solidão. Lembro-me de tantas coisas impossíveis. Agora, caminho por esta manhã deserta. As pedras do passeio existem debaixo dos meus passos. Ninguém, nem sequer eu próprio, me pergunta para onde vou. Nas ruas desertas, sou uma multidão de gente mutilada a caminhar. Sou aquele que, esta noite, te viu partir, que olhou para ti quando os teus olhos se despediram e que não pôde fazer nada senão olhar para ti, o corpo que foi meu, e vê-lo afastar-se, cada vez mais longe dos meus braços. (...)
Nunca mais poderei sonhar porque tu não estarás ao meu lado e, descobri hoje, só posso sonhar contigo ao meu lado. Espetada infinitamente em mim, uma faca infinita. Deixei de imaginar o futuro. Sobre esse tempo que não sei se chegará existe um manto muito mais negro do que aquele que cobre o passado. Não consigo olhar através desse tempo negro. O futuro estará depois de muitas noites, mas eu deixei de imaginar as noites. Sei que, da mesma maneira que esta noite se cobriu de manhã, esta manhã poderá anoitecer. Consigo imaginar cada tom das suas cores a tornarem-se negras. Não consigo imaginar este tempo a transformar-se noutro tempo. Contigo, perdi tudo o que fui para não ser mais nada. Deixei-me ficar nos sonhos que tivémos. Abandonei-me. Nunca mais entenderemos a lua como quando acreditávamos que aquela luz que atravessava a noite nos aquecia. Nunca mais. Nunca mais poderemos sonhar. Nunca mais.

José Luís Peixoto - Lunar

E lembro-me de ti como uma faca, uma faca profunda, a lâmina infinita de uma faca espetada infinitamente em mim. Não passou muito tempo desde que a manhã nasceu. Passou muito tempo desde que me deixaste sozinho entre as sombras que se confundiam com a noite. Noutras noites, olhámos para a lua. Nesta noite, não olhámos para a lua. Noutras noites, olhámos para a lua e enchemo-nos de desejos. Nesta noite, não olhámos para a lua e sofremos. Noutras noites, olhámos para a lua e não sabíamos o que era sofrer. Escuridão e esperança. Na lua, víamos mais do que o reflexo daquilo que queríamos inventar: os nossos sonhos. Víamos um futuro que era maior do que os nossos sonhos e que nos envolvia e que nos puxava para dentro de si. Não sabíamos que nos esperava algo muito maior do que aquilo com que podíamos sonhar. Estavamos enganados. Aqui, sobre estas pedras que brilham, sob estas lágrimas no meu rosto, sei que nos enganamos e sei a lâmina infinita de uma faca.

segunda-feira, junho 06, 2005

Finger Eleven - Stay and Drown

Good God have I been dreaming
This paralyzing feeling?
Was I left alone?
Where have you gone?
Were you somewhere else just sleeping?
If I wait to wake you
I'll never ask you
Would you take my hand?
In the deepest end
Would you stay and drown in me?
My open eyes see everything
But I'm passing all the days through a window pane
And as the scene would change
I'd stay the same
This paradise was nothing new
But the paradise gets tired of you
A single conversation
Stole my attention
My open eyes see everything
And you see nothing
And don't forget it

domingo, junho 05, 2005

Devaneios de uma idiota chapada.

Athlete - Wires
You got wires, going in
You got wires, coming out of your skin
You got tears, making tracks
I got tears, that are scared of the facts
Running down corridors
Through automatic doors
Got to get to you, got to see this through
I see hope is here, in a plastic box
I've seen christmas lights, reflect in your eyes
You got wires, going in
You got wires, coming out of your skin
There's dry blood, on your wrist
Your dry blood, on my fingertip
Running down corridors
Through automatic doors
Got to get to you, got to see this through
First night of your life, curled up on your own
Looking at you now, you would never know
I see it in your eyes
I see it in your eyes
You'll be alright
I see it in your eyes
I see it in your eyes
You'll be alright
Alright
Running ... down corridors, through, automatic doors,
Got to get to you, got to see this through,
I see hope is here, in a plastic box,
I've seen christmas lights, reflect in your eyes,
Down corridors, through automatic doors,
Got to get to you, got to see this through,
First night of your life, curled up on your own,
Looking at you now, you would never know
É incrível como a mais pequena coisa me faz lembrar de ti. Hoje passei o dia no Palácio e, apesar de nunca lá termos ido juntos, foi como se já tivesse percorrido todos aqueles caminhos contigo. Qualquer coisinha, pensava "ele ia adorar ver isto; tenho a certeza que ele compreenderia a beleza deste momento". O dia passou depressa. No fim, um rapaz perdido na mais bela paisagem do jardim, encolhido como que desprotegido e lá estavas tu. A 3 metros de mim. Sentado sobre uma mesa, pernas cruzadas, ar sério, compenetrado na vista do rio Douro. Lamentei não ter levado máquina fotográfica. Lamentei não teres de facto estado lá. Lamento agora, ao chegar a casa, o sentir-me tão perdida e desamparada, incapaz de fixar o olhar no que quer que seja, com medo que as lágrimas caiam. Feita parva, sempre a recordar o passado. Feita parva, sempre a recordar a alegria e a tristeza, o carinho e a dor, a compreensão e a solidão. Feita parva, aninhada a chamar por ti. Vais ficar bem? Será que vais? Gostava de ter certezas. Queria que ficasses bem. Queria recuar no tempo para aquela noite e torná-la a mais perfeita de todas. Queria fazer as estrelas brilhar só para ti, queria que a música soasse só para ti, para nós dançarmos, queria uns baloiços para nos elevarmos até ao céu e voarmos, queria uma praia onde nos sentassemos na areia, na escuridão, a ouvir o mar, queria rasgar o meu peito e entregar-te o meu coração, com as mãos repletas de sangue, de dor, mas ainda assim confiar-to. Queria segurar-te a cabeça, prender-te nos meus braços, deitar-te no meu colo e embalar-te até sempre, prometendo que nunca, mas nunca te iria abandonar. Queria o impossível, o possível e o não possível. Queria tu e eu. Eu e tu. Nós. Queria algo que não basta querer. Queria deixar de complicar as coisas e torná-las simples, tanto de pensar, como de agir. Quero ir para a cama e chorar tudo, todo o sofrimento do dia, da semana, do mês, do ano. E adormecer esgotada, para mais tarde acordar vazia, encher-me durante o dia com coisas superficiais e voltar a esvaziar-me à noite. Quero que sejas o mais feliz que possas, quero que encontres aquilo que procuras e que mais desejas, quero que recebas tudo aquilo que mereces e a que tens direito. Quero um dia poder sentir-me menos culpada e angustiada de cada vez que penso em ti. Quero um dia poder amar-te descansada e de consciência tranquila, sem receios ou evitamentos, apenas vivendo o sentimento, tendo consciência dele e aceitando-o como ele é. Quero dormir. Dormir, dormir, dormir e dormir até terem passado 50 anos da minha vida e eu poder olhar para trás com um sorriso. Ou não. De qualquer das maneiras, já não sei o que digo. Não sei o que escrever, o que pensar, o que falar. Limito-me a passar para aqui todo e qualquer pensamento que me cruza a mente. Mesmo que no momento seguinte não faça o mínimo de sentido. Nunca fiz sentido. Não vou começar agora.
Quero apagar tudo o que escrevi, porque me irrita a falta de sentido, a falta de nexo, o tipo de escrita, o seguimento de ideias, o tipo de ideias. Quero apagar tudo, o blog, o nick, os comments, as mãos, os braços, os ombros, a cabeça, o cabelo, toda a minha existência. Ontem comecei com o cabelo, mas não consegui acabar. Respirei fundo, peguei na tesoura e cortei um bocado de cabelo. Lembrei-me daqueles filmes em que a gaja corta o cabelo à tesourada e do quão idiota sempre achei que aquela atitude era. Apercebi-me que estava a ficar doida. Parei e dei um jeito a mais um erro que tinha cometido. Sentei-me, olhei-me ao espelho e chorei. Cobarde até dizer chega. E depois vem o sorriso: "olha, decidi cortar o cabelo a mim própria... Para poupar dinheiro e tal...". Quando na verdade, tudo o que queria era desfazer-me daquela imagem. Rasgar, cortar, arrancar, puxar, romper, dilacerar, até me aniquilar por completo.
Dormir, sim. Dormir é bom. Dormir faz-me bem. Pareço tola, lol.

sábado, junho 04, 2005

Um ano...

David Peres - Maria
Comecei a voar quando ouvi a tua voz
Era verão em Junho e foi há tanto tempo...
Fazia calor por dentro da alma e comecei por sentir tudo aquilo, como se a felicidade estivesse quase a entrar em mim, como se ela trouxesse tudo.
Voei naquele sonho onde recordei um deus não cruel, como quem sente que o passado se está a transformar como que por um encanto inadiável.
Senti uma areia muito fina que por dentro do corpo saía e como por magia tornaste-te a união com tudo aquilo que na véspera atirei ao ar.
Fazes-me recordar tanta coisa.
Recordo ainda tanta coisa de mim há tanto tempo, que já não sei.
É verdade que durante duas ou mais eternidades senti muitas saudades mas agora, não sei como explicar-te, sinto a vida, o mundo e as pessoas que por mim passaram, mas de outra maneira.
Hoje voei dentro de água. Sonhei ou acordei aquela tarde de verão longe e tardia. O telemóvel já não toca como na manhã seguinte e lembrei-me daquele pássaro que levou a primavera para dentro do sol e aí morreu.
O sonho voou por dentro de nós, por dentro do tempo há muito... e sentiu no nosso sono a estranha certeza que ali até ele e as suas mágicas porções contidas num "retrato" que guardamos, muito pouco podem fazer.
Mas a fome e a sede da ternura que nos está sempre tão perto e para a qual não sabemos se temos a força suficiente para correr, talvez se transforme num apetite que ainda não somos capazes de dizer.
O teu rosto está a uma distância insuportável.
O futuro sente que tem de fazer muita força para chegar aqui.
Faz hoje um ano... Um ano que passou desde aquela noite, a primeira noite. Ainda me lembro do nervoso da noite anterior, de como me deitei a pensar se estaria a fazer a coisa certa. De como me disseste que seria uma noite fantástica, maravilhosa, perfeita... Lembro-me de ter passado grande parte da tarde no cabeleireiro a roer as unhas com a ansiedade... De ter ido jantar a casa da Xana e de me sentir tão mal que quase não consegui comer nada, estava sempre prestes a vomitar. De como me arranjei e de como me apeteceu partir o espelho e rasgar o vestido, porque me sentia ridícula. De como ajudei a Xana a pentear-se e a arranjar-se e depois ainda fomos buscar a Alexandra, eu mais nervosa do que nunca... De como me deste o toque e elas ainda se estavam a maquiar e a colar-me as unhas postiças, porque eu tinha roído tanto as unhas que estavam uma miséria. De me teres mandado mensagens a dizer que já estavas à espera e eu cheguei super atrasada, e já pensavas que não ia aparecer. De como tentei fazer aquele ar de à vontade, a primeira vez que nos viamos e eu mal me segurava nas pernas... Aquelas borboletas no estômago... Ia ser a melhor noite da minha vida... Tinha de ser... Estavas ali e isso, só por si, bastava... Entramos e houve logo aquela situação com a Alexandra e o namorado. Naquele instante percebi que a noite não seria fácil... Tirámos aquela fotografia, os três, tu no meio, eu e a Xana do teu lado... Nunca a vimos. Falávamos com profs, com pessoal da turma... Eu estava nervosa, porque ia ler perante aquela multidão toda e o meu ar de à vontade era completamente falso... E lembro-me que puseste a tua mão nas minhas costas como que para me acalmar, e estavas sempre ali, a segurar-me nas coisas, a acalmar-me... Eu estava prestes a cair para o lado, a morrer de calor, só queria fugir dali, para um sítio calmo e sossegado, só nós os dois... Não te dei a atenção que merecias nessa noite. Fui egoísta. Só pensei em mim. Mesmo nessa noite acabamos muitas vezes isolados, cada um para o seu canto... Tu sozinho, de preto, escondido na escuridão, eu a correr de um lado para o outro, a chatear-me com a Alexandra, recolhida no meu canto enquanto tu e a Xana falavam.
Foi há um ano que estivemos parados aqui à frente de minha casa, eu deitada no teu colo... Um ano que vi as tuas lágrimas, que te tentei amparar naquele momento em que sabia que precisavas de mim... Um ano que me apercebi que tinha feito merda, no momento em que mais precisavas de mim... E que foi só o início... Lembro-me que no dia seguinte disseste que se calhar não nos devíamos ver mais, que eu tinha razão, que aquilo ia estragar tudo... E um ano que eu insisti que queria emendar os meus erros, que ia ser diferente... Não foi, pois não? Não foi nada diferente... Foi a primeira noite do resto da minha vida... A noite que era suposto ter sido maravilhosa, linda e perfeita... E que apenas nos destruiu. Tinhamos tudo para sermos felizes... Tinhamos tudo o que era preciso para darmos as mãos, erguermos as cabeças e seguirmos em frente.
Hoje, passado um ano desde essa noite, dou por mim abraçada a mim própria, tão diferente já do que era nessa altura, com uma vida auto-destrutiva e um sentimento repulsivo para com tudo o que me diz respeito. Dou por mim sozinha, mas rodeada de gente, atrás de um novo muro, uma nova barreira que surgiu após a outra ter sido derrubada. Dou por mim aqui e dou por ti aí. Como naquela noite. Como tudo começou, ou melhor, acabou. É incrível como, num ano, continuo cada vez mais agarrada a ti, mas de maneira diferente. Como sufoco de dor e angústia perante tudo o que se perdeu... Como me dói a tua dor, como cada palavra tua ficou gravada a ferro em mim, como cada imagem tua está cá dentro, cada momento, cada sentimento, cada olhar, cada gesto, cada silêncio, cada riso, cada lágrima, cada grito... Vivo numa escuridão da qual não pretendo sair, porque é o único elemento que nos une... É o único elo entre nós, a única maneira de me identificar contigo... A única maneira de estar, de alguma forma, contigo... A única maneira que conheço de viver... Sou marcada pelo silêncio, pela imparcialidade, pela indiferença. Mas sobretudo pelo silêncio e frieza. Aquela que nunca foi capaz de se dar, de se entregar, que cresceu afastada de todos, que se manteve afastada de todos, que se rodeou de arame farpado, que chora lágrimas de sangue que ninguém vê, ou que mesmo que veja nada pode fazer em relação a isso. Aprendi a esconder-me do mundo, a encolher-me no canto, a proteger-me com as minhas asas partidas que nunca souberam como voar. A mostrar-me de uma maneira que ninguém percebe, a demonstrar o meu sofrimento de uma maneira que ninguém vê, a gritar de uma maneira que ninguém ouve. Mostro-me pelo silêncio, sofro com um sorriso, grito com murmúrios. Que espécie de monstro sou eu? Que género de ser humano nasceu em mim, que se assemelha em tudo ao que um dia reprovamos da vida, das pessoas? O que é feito de mim, de nós? Está perdido, bem sei. Morreu, bem sei. Mas continua tão aqui... Tão presente a cada momento, a cada instante, a cada reflexo, olhar, pestanejar, pensar, sentir... Para onde é que fomos?
Um ano passado, resta-me esperar pelo próximo, já sem projectos, sem esperanças, sem expectativas. Sem desilusões nem ilusões. Como será no próximo ano? Onde estaremos nessa altura? Tudo se perdeu demasiado depressa. Demasiado...

sexta-feira, junho 03, 2005

José Agostinho Baptista - Marta

Também tu já viajas
no coche negro com flores de ouro.
À altura dos teus olhos fechados,
a tampa de mogno não deixa passar a
ínfima luz dos candelabros.
Nada se ouve
mas as mãos de Deus vão arrancando,
uma a uma,
as raízes da minha vida, as suas hastes,
as pétalas que envelhecem sobre a mágoa.
Onde estás,
pequeno colibri do sul,
madrinha antiga da minha solidão?
Nada se vê
mas parece que pousas nos ramos da
cerejeira,
parece que me chamas, como outrora,
quando o fumo saía das chaminés,
parece que me dizes para esquecer os
navios.
Fiquei prisioneiro de ti e de todos,
e agora,
o meu sangue arrefece,
e já não vejo as horas num relógio de
luto.
Abril é o mais cruel dos meses,
li um dia,
quando ainda procurava as rosas no
coração da beleza.
Mas é demasiado tarde e tenho medo.
Digo-te simplesmente adeus,
e chove.

Reflections in the Mirror